segunda-feira, 5 de julho de 2010

Cardápio que parece ficção

 - (Kleber Sales)

Seu café da manhã é um cereal líquido e seu almoço é arroz com feijão acrescidos de legumes em pó? Refeições estranhas, com gostos esquisitos, mas reais. Saiba qual o impacto de recentes lançamentos da indústria nos hábitos à mesa
Olívia Meireles




A maneira como as pessoas se relacionam com comida está mudando. Ou come-se demais ou come-se de menos. Ouvimos informações sobre o crescimento do número de obesos na mesma proporção em que campanhas contra a anorexia são lançadas. A moda das celebridades de Hollywood, por exemplo, é se alimentar à base de sopa de neném industrializada, no café da manhã, no almoço e no jantar. Já os atletas se entopem de líquidos ricos em nutrientes, mas com gosto artificial.Texturas, sabores, consistências e composições diferentes agora fazem parte de um cardápio, à primeira vista, pra lá de estranho, feito de itens como ração humana, refrigerantes com vitaminas, legumes em pó, cereais líquidos e até bebidas que embelezam. “É uma exigência da vida moderna nesses últimos anos”, argumenta José Mauro de Moraes, diretor de assuntos regulatórios da Coca-Cola Brasil.
Seja com o apelo de emagrecimento ou de complemento nutricional, o fato é que os produtos, apesar de caros, vendem, e a praticidade é um fator inegável para o sucesso comercial. Afinal, em qualquer lugar é possível preparar um shake, consumir uma sopa pronta ou misturar a ração com a comida. Também é incontestável que alguns desses produtos, devido à adição de fibras, dão a sensação de saciedade, eliminando aquela vontade incontrolável de comer entre as refeições e auxiliando no processo de perda de peso. Mas até que ponto eles são saudáveis?
Os nutricionistas são unânimes: muitos produtos podem ser usados sem problemas, e alguns até com vantagens, mas apenas como complementação de uma dieta equilibrada e de hábitos saudáveis. Não se deve trocar refeições completas pelos chamados substitutos. O uso indiscriminado é condenado, até porque o excesso de nutrientes no organismo pode causar tantos problemas como a falta deles.
Independentemente da discussão sobre as propriedades nutricionais e os efeitos no organismo, os lançamentos da indústria alimentícia têm um impacto nos hábitos alimentares e nos levam a pensar como serão as refeições no futuro: estaria próximo o dia em que um simples comprimido conterá os mesmos nutrientes que um prato quentinho de arroz, feijão, legumes cozidos no vapor e carne macia? Ou que uma pequena pílula será o suficiente para te deixar saciado, sem fome, saudável e magro?
Especialistas sustentam que a tal cápsula de comida, no entanto, ainda é um sonho — ou pesadelo, dependendo do ponto de vista — distante. O segredo para se beneficiar dos alimentos que mais parecem comida de astronauta sem arriscar a saúde baseia-se na reeducação alimentar, o único modelo eficaz para perder peso gradativamente e suprir o organismo dos nutrientes necessários. O resto é conversa.

Para começar, entenda a diferença
Existem três tipos de fontes de nutrientes industrializados no mercado. Cada um serve para um propósito. Fique atento às embalagens.
  • Suplemento: serve para reforçar uma alimentação com alguma deficiência nutricional. Na maioria dos casos, é usado quando existe uma necessidade bem maior de nutrientes do que se aquela que se consegue suprir por meio da ingestão de comida. Exemplos: barras de proteína ou gel.
  • Complemento: é o alimento rico em determinados nutrientes para melhorar as refeições. É o recurso mais apoiado pelos nutricionistas, pois permite que os consumidores mantenham o hábito de mastigação e percepção de gosto dos alimentos naturais. Exemplo: ração humana.
  • Substitutos de refeições: são alimentos prontos para substituir refeições -- os menos recomendados por nutricionistas. Exemplo: shakes e sopas prontas.
O que é, o que é?
No supermercado nem sempre vemos os tais complementos, suplementos e substituidores de refeições nas prateleiras. Mas pode ter certeza eles estão lá e em mais lugares do que se pode imaginar. Às vezes, compramos os produtos e nem sabemos o que realmente são. Por isso, fique de olho nos rótulos. Confira alguns exemplos:
  • Legumes em pó: a ideia, aparentemente, é boa. Assim, a pessoa teria os benefícios dos legumes, sem ter que sentir o gosto que, para elas, é desagradável. O problema é que, no processo de fabricação, eles perdem alguns nutrientes e, portanto, a função principal é prejudicada.
  • Aliméticos: são os alimentos que funcionam como cosméticos, últimos lançamentos da indústria. Eles podem aparecer como bebidas, pães e balas, que prometem promover um equilíbrio no corpo para que as pessoas fiquem mais saudáveis e, consequentemente, mais bonitas. Alguns adicionam, por exemplo, colágeno, essencial para a firmeza da pele.
  • Ração humana: nada mais é que a mistura industrializada de grãos. Os nutricionistas prescrevem esses grãos há décadas, mas há seis meses eles começaram a ser comercializados por empresas grandes num mesmo pacote. A vantagem é que podem ser misturados conforme a necessidade individual de cada um.
  • Shakes: são os mais comuns e antigos substituidores de refeição. Eles vêm em sabores diferentes e têm funções diferentes. Os vendidos em supermercados servem para compor a dieta de quem quer emagrecer e os encontrados nas lojas de suplementos são para auxiliar o ganho de massa muscular.
  • Sopa em pó: são as instantâneas, encontradas em diversas marcas, mas todas com sabores duvidosos. Além de não darem muita sensação de saciedade, elas contêm muito sódio.
  • Refrigerante com vitaminas: produtos que sempre foram considerados “calorias vazias”, ou seja, que engordam e não contribuem — e muitas vezes atrapalham — ao funcionamento do organismo. Os recém-lançados refrigerantes com vitaminas e minerais pretendem acabar com essa fama, mas os especialistas são céticos. Mesmo com a adição de nutrientes, outros fatores, como o excesso de sódio, os distanciam de um rótulo que possa ser considerado saudável.
 Opa, cuidado!
Enquanto os fabricantes estão otimistas quanto a nova tendência da indústria, os nutricionistas são cautelosos. “Esses alimentos suplementares não têm todos os nutrientes de que nosso corpo precisa para ser saudável”, explica a professora de nutrição da Universidade Católica de Brasília Fabiani Beal. Não há dúvida de que eles podem ser bons aliados da dieta, mas não são ricos em substâncias essenciais o suficiente para se equivaler a um bom prato de comida fresca.
Deve-se tomar cuidado, principalmente, com os produtos que prometem substituir refeições inteiras. Pois, apesar de conterem macronutrientes — proteína, carboidratos e lipídios —, eles têm outras carências nutricionais. Os shakes e sopas, por exemplo, não suprem a necessidade dos micronutrientes — vitaminas e minerais.
Por isso, não funcionam sozinhos dentro de um cardápio saudável. Os nutricionistas sugerem que sejam usados apenas para complementar uma dieta diária já balanceada. “Alguns desses produtos até podem ser nutricionalmente equilibrados, mas acredito que o uso deva ser restrito a casos especiais, onde se pretenda uma suplementação ou complementação nutricional”, avalia a professora de nutrição da Universidade de São Paulo Mônica Jorge.
A recomendação é a mesma para os complementos e suplementos. Alguns deles têm como base alimentos ricos em nutrientes, mas para serem industrializados eles passaram por transformações químicas. Principalmente os legumes em pó e os vegetais ressecados. No processo, se perdem fibras, vitaminas hidrossolúveis, como o complexo B e a vitamina C. Esta é uma das razões mais importantes para não usar exclusivamente esse tipo de alimento em nossa dieta: eles não conseguem fornecer todos os nutrientes que uma comida natural oferece.
O ideal é que esses produtos sejam prescritos para lanches da tarde ou como complemento de alguma refeição em vez de serem usados como almoço ou jantar. Além disso, o uso não é indicado para todos os casos. É preciso avaliar qual é o objetivo da dieta: emagrecimento, ganho de massa muscular ou até para um melhor controle de doenças crônicas, como hipertensão e diabetes. Por isso, recomenda-se que sejam usados apenas com orientações médicas.

Cuidado com os rótulos
A professora de nutrição da Universidade de São Paulo Mônica Jorge é categórica: “Todo mundo deve tomar cuidado com suplementos, complementos e substituidores”. Por isso, é imprescindível consultar um nutricionista para escolher qual o tipo que melhor se adapta à rotina e à dieta. Algumas orientações, entretanto, são para consumo geral.
  • Nenhuma criança deve consumir esses produtos.
  • Adultos devem ter uma rotatividade quanto as marcas. O ideal é variar a composição de conservantes para que o organismo não tenha sobrecargas.
  • Pessoas com doenças crônicas devem tomar cuidado com os nutrientes, consultando a tabela nutricional. Diabéticos devem comprar as versões sem açúcares, os hipertensos precisam ficar atento ao sódio e as versões com guaraná e os celíacos têm que optar por versões sem glúten.
  • Os alérgicos devem ficar atentos às especificações do produto para não ingerir um alimento prejudicial, pois essas fórmulas contêm muitas misturas.
  • Fique atento principalmente ao nível de sódio, pois o mineral altera o equilíbrio hídrico do organismo e pode aumentar a pressão arterial.

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