sábado, 29 de novembro de 2008

Estudo encontra pistas sobre o envelhecimento no vinho

Nicholas Wade

Uma nova percepção sobre os motivos do envelhecimento foi desenvolvida por cientistas que estão tentando compreender como o resveratrol, um ingrediente menor do vinho tinto, propicia melhor saúde e mais longevidade a ratos de laboratório. Eles acreditam que a integridade dos cromossomos é comprometida à medida que as pessoas envelhecem, e que o resveratrol funciona ao ativar uma proteína conhecida como sirtuin, que restaura a saúde cromossômica.

A constatação, publicada quinta-feira na versão online da revista Cell, deriva do trabalho de um grupo de pesquisadores liderado por David Sinclair, da Escola de Medicina de Harvard. O projeto é parte de um crescente esforço dos biólogos para compreender a sirtuin e outros poderosos agentes que controlam os comandos do metabolismo nas células vivas, como por exemplo a maneira pela qual elas controlam gorduras e sua resposta à insulina.

Os pesquisadores estão apenas começando a compreender como esses agentes funcionam e de que maneira se poderia manipulá-los, na esperança de que isso torne possível desenvolver medicamentos que reforcem a resistência a doenças e retardem o envelhecimento.

A Sirtris, uma empresa que Sinclair ajudou a criar, desenvolveu diversos produtos químicos que reproduzem o comportamento do resveratrol e são potencialmente mais adequados para a produção de medicamentos, já que ativam a sirtuin em dosagem muito menor do que a necessária para que o resveratrol o faça.

Este mês, um desses produtos químicos, de acordo com estudo publicado pela Cell Metabolism, se provou capaz de proteger contra a obesidade ratos de laboratório que são alimentados com dietas de alto teor de gordura, e ampliou sua resistência em testes físicos ¿ um efeito semelhante ao do resveratrol.

Ainda que a pesquisa pareça ser um campo bastante promissor, as questões sobre essa proteína ainda não estão nem de longe respondidas. O resveratrol é um agente poderoso, com muitos efeitos diferentes, apenas alguns dos quais são exercidos pela sirtuin.

Assim, medicamentos que ativem a sirtuin podem não ser um tônico tão esplêndido para os seres humanos quanto o resveratrol provou ser para os ratos de laboratório.

A nova constatação se relaciona à manutenção dos cromossomos, as moléculas gigantes de ADN que compõem o genoma. Cada célula tem cerca de dois metros de ADN contidos em seu núcleo, e ele porta as cerca de 20 mil instruções genéticas necessárias à operação do corpo humano.

Cada célula precisa oferecer acesso instantâneo a um punhado desses genes necessários especificamente àquele tipo de célula, mas também bloquear firmemente as ações dos demais genes, para evitar uma situação de caos.

O papel normal da sirtuin é ajudar a amordaçar todos os genes que uma célula precisa manter sob controle. Ela o faz mantendo a cromatina, a substância que envolve o ADN, enrolada de maneira tão apertada que a célula não consegue acesso aos genes subjacentes.

Mas a sirtuin desempenha outro papel crucial, que é deflagrado por emergências como uma interrupção em ambos os feixes de ADN de um cromossomo. Quando um feixe duplo se quebra, a sirtuin acorre ao local rapidamente a fim de ajudar a remendar os dois pedaços do cromossomo que se separaram. Mas nessa operação de salvamento, ela deixa seu posto, e os genes que vinha reprimindo podem voltar a agir, o que causa confusão.

Isso, sugerem Sinclair e seus colegas, pode ser uma causa fundamental no envelhecimento dos ratos de laboratório, e possivelmente dos seres humanos também.

O papel de repressão genética da sirtuin foi descoberto nos anos 80 por biólogos que estavam estudando o fermento, um organismo que costuma ser estudado com freqüência em laboratórios. Sinclair e Leonard Guarente, do Instituto de Tecnologia de Massachussets, descobriu em 1997 que a sirtuin também pode reparar certas formas de dano genômico no fermento, e ao fazê-lo prolonga a vida das células de fermento. Mas essa forma específica de dano não ocorre em células de mamíferos, o que suscita o enigma de por que sirtuin adicional faria bem a elas.

O novo relatório de Sinclair, caso confirmado, resolve esse problema ao demonstrar que a sirtuin manteve seu papel de reparo genético nos organismos mais elevados, mas esse reparo se concentra em um tipo diferente de dano genômico ¿o de interrupção nos feixes de ADN dos cromossomos.

As experiências do grupo ¿demonstram com muita elegância¿ que a sirtuin trabalha de maneira parecida nos mamíferos e no fermento, disse o Dr. Jan Vijg, do Colégio de Medicina Albert Einstein, em comentário publicado na revista ¿Cell¿. A questão agora passa a ser determinar se a sirtuin é um fator que favorece maior longevidade nos mamíferos, ele afirmou em mensagem de e-mail.

Ronald Evans, biólogo do Instituto Salk, disse que o novo relatório era instigante, mas não provava o caso de que o reposicionamento da sirtuin era uma causa direta de envelhecimento. Testes com ratos de laboratório geneticamente alterados para excluir o gene da sirtuin poderiam demonstrar se esses espécimes apresentariam sintomas de envelhecimento prematuro, como a idéia de Sinclair preveria.

Sinclair afirmou que concordava em que a hipótese quanto ao papel da sirtuin no envelhecimento não estava provada. "Tomamos o cuidado de não afirmar de maneira categórica que essa é uma causa do envelhecimento, mas com base em tudo que sabemos, não é uma má hipótese", disse.

Seria interessante testar o envelhecimento em ratos de laboratório desprovidos do gene da sirtuin, como Evans propôs, mas eles morrem cedo demais, disse Sinclair.

O pesquisador vem tomando grandes doses diárias de resveratrol desde que ele e seus colegas descobriram que o produto ativava a sirtuin, cinco anos atrás. ¿Continuo a usar, e me sinto muito bem¿, ele afirma. "Mas é cedo demais para determinar se pareço jovem para a idade que tenho".

Tradução: Paulo Migliacci

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