quinta-feira, 18 de junho de 2009

Transplante de córnea: uma preciosidade que exige cuidados

Fonte:SEGS
Teresa Cristina Machado
17-Jun-2009
O Distrito Federal lidera o ranking nacional de transplantes de córnea. Especialista do HOB alerta que a recuperação do transplantado é lenta e requer paciência e total atenção por, pelo menos, um ano. Diante da necessidade de transplante de córnea, há uma sequencia de ações que o paciente deve cumprir

Uma córnea transplantada é uma preciosidade e deve ser tratada com este valor. O olho de um transplantado é mais frágil e é necessário ter consciência disso, atender a agenda de revisões médicas, a aplicação dos medicamentos e observar os cuidados indicados. De acordo com o último relatório do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), em 2008, o transplante de córnea respondeu por quase 75% de todos os transplantes realizados no País.

No Distrito Federal, a Sociedade Brasiliense de Oftalmologia, divulgou esta semana que foram realizados 147 cirurgias para cada um milhão de habitantes no primeiro trimestre deste ano, posicionando a capital do País em primeiro lugar no ranking nacional de transplantes de córnea.

O processo de recuperação de um transplante de córnea é lento e passar por este período sem problemas requer paciência, observa o oftalmologista do Hospital Oftalmológico de Brasília (HOB), Patrick Tzelikis, especializado em transplantes.

Um transplante de córnea implica em pelo menos um ano de visitas periódicas ao oftalmologista para acompanhar a adequação do organismo ao novo tecido que passa a integrá-lo, diz o médico. Trata-se da substituição de um tecido com anormalidades estruturais que impedem a formação adequada da imagem, por uma córnea saudável. É um processo que envolve um receptor e um doador, pois as córneas transplantadas são naturais.

Oito meses - No Distrito Federal, um paciente que necessita de transplante de córnea vai aguardar em torno de oito meses até ser chamado para a cirurgia, estima Tzelikis. "É um período longo se comparado a locais como a cidade de Sorocaba (SP), onde a fila do transplante de córnea zerou", reconhece o médico. Ele considera que ainda falta uma ação mais efetiva dos órgãos governamentais no sentido de estimular a cultura da doação de córneas na sociedade.

Diagnóstico - A substituição da córnea é indicada quando há alguma lesão ou doença que afete a integridade ou a curvatura da córnea comprometendo, dessa maneira, a visão de uma pessoa. A principal alteração na córnea que exige a realização de um transplante é o ceratocone - uma anomalia na qual a córnea sofre mudanças em sua estrutura, tornando-se mais fina e obtendo o formato de cone. Essa irregularidade interfere na curvatura do olho, aumenta o astigmatismo e, consequentemente, distorce muito a imagem. Para os portadores de ceratocone que não conseguem melhorar a qualidade e a quantidade de visão por meio de tratamentos com óculos, lentes de contato, anel de Ferrara ou crosslink, a indicação é o transplante. Em torno de 20% dos portadores de ceratocone são indicados para transplante de córnea, calcula Tzelikis.

Atualmente, avalia o médico, 80% das indicações de transplante de córnea são feitas para portadores de ceratocone. "O transplante só não é recomendado para quem não tem potencial bom de visão. Conforme o caso, não vale a pena realizá-la, nem fazer a pessoa passar pelo sacrifício do pós-operatório", assinala.

Além do ceratocone outras distrofias genéticas levam à indicação de transplante. Estão nesta relação, por exemplo, casos em que uma camada mais profunda da córnea, o endotélio, apresenta problemas à visão. Esses casos, geralmente, se manifestam após os 50 anos de idade. "Ocorre quando as células endoteliais que revestem a face posterior da córnea vão sendo perdidas no decorrer da vida. Quando a perda é acentuada, a córnea deixa de ser impermeável e incha por causa da entrada do líquido existente ali - humor aquoso - deixando a córnea com aspecto de vidro fosco e prejudicando a passagem da luz, tornando a visão embaçada. Nesses casos, o transplante é a única forma de reconstituição do endotélio", explica o especialista.

Tendência mundial - Hoje, o transplante lamelar é uma tendência mundial, é o mais recomendado em alguns casos e é a prática empregada no HOB há quatro anos. Esta técnica consiste em substituir apenas uma parte da córnea, para corrigir somente a região onde está localizado o problema. Segundo Tzelikis "a vantagem do transplante lamelar é que, sendo substituída uma parte menor, o risco de rejeição também é menor e, além disso, a parte saudável da córnea do paciente não é removida".

A cirurgia de transplante de córnea é realizada em torno de uma hora, mas os cuidados que o paciente precisa ter no pós-operatório exigem atenção por cerca de um ano e devem ser rigorosamente observadas para o sucesso do procedimento. O primeiro ano pós-transplante é o período em que o paciente está mais suscetível a encontrar dificuldades na recuperação. Nesse período, avisa o médico, o paciente vai percebendo melhoras, mas é comum notar variações. "Um dia enxerga melhor, outro, pior, mas não é necessário deixar de fazer as atividades. Apenas é indicado evitar esportes de contato como futebol", diz.

Avaliações - As avaliações devem ser cumpridas rigorosamente. No primeiro mês do pós-operatório, são semanais. A partir do segundo mês, passam a ser mensais. De acordo com a recuperação, passam a ser trimestrais, semestrais e, depois anuais, quando todos os pontos estiverem removidos. "São cerca de 16 pontos e, às vezes, demora um ano, período que exige acompanhamento médico", observa.

Cuidados - De acordo com Patrick, um dos maiores riscos a que está sujeito um paciente com córnea transplantada é o de infecção e rejeição, em razão de ter recebido um novo órgão. Os cuidados no pós-operatório, vão além das visitas médicas para avaliação. O transplantado deve, por exemplo, usar óculos de proteção para atividades do dia-a-dia, aplicar colírio de corticóide conforme indicação médica, ter muita atenção com a higiene, evitar levar as mãos aos olhos, nunca coçar os olhos, este hábito pode romper os pontos.

Serviço - Diante de um diagnóstico de necessidade de transplante de córnea, o paciente deve:

1) Solicitar ao médico a indicação sobre onde encontrará o formulário para se inscrever no banco de olhos como receptor;

2) Preenchido o formulário em instituição credenciada e assinado por médico também credenciado, o paciente deve levar o documento ao banco de olhos de seu estado e inscrever-se como candidato a receptor de córnea. A fila é única para cada Estado.

3) Uma vez inscrito e integrante da fila, o paciente tem que aguardar o banco de olhos avisar ao hospital ou instituição de saúde que encaminhou a solicitação. Esta instituição é que irá avisar o paciente quando chegar a sua vez de realizar o transplante por disponibilidade de córnea.

Patrick Tzelikis comenta que atualmente, os meios de preservação de órgãos, como córneas, permitem uma espera de até 10 dias para a realização do transplante. "É importante para o caso do receptor estar impossibilitado de receber a córnea por alguma razão na data em que recebe o aviso", conclu.

2 comentários:

  1. Muito esclarecedor, obrigado pelo artigo.

    ResponderExcluir
  2. Em quanto tempo, normalmente, um paciente transplantado consegue enxergar?

    ResponderExcluir

Conteúdo de terceiros

O http://saudecanaldavida.blogspot.com/ sempre credita fonte em suas publicações quando estas têm como base conteúdos de terceiros, uma vez que não é do nosso interesse apropriar-se indevidamente de qualquer material produzido por profissionais ou empresas que não têm relação com o site. Entretanto, caso seja detentor de direito autoral sobre algo que foi publicado no saudecanaldavida e que tenha feito você e/ou sua empresa sentir-se lesados, ou mesmo deseje que tal não seja mostrado no site, entre em contato conosco (82 999541003 Zap) e solicite a retirada imediata.