segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Câncer de mama aumenta em jovens

Crescimento no número de casos é expressivo em todas as faixas etárias, mas é mais preocupante nas mulheres em idade reprodutiva, por ser mais agressivo e difícil de detectar; especialistas defendem rastreamento para todas a partir dos 40 anos de idade
03 de janeiro de 2011 | 0h 00

Karina Toledo - O Estado de S.Paulo

O Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) levantou o perfil das mulheres que passaram pelo hospital para tratamento de câncer de mama. Entre as 2.573 pacientes atendidas nos quase três anos de funcionamento da instituição, 15% têm menos de 45 anos. A mais jovem tinha, na época em que recebeu o diagnóstico, apenas 19 anos.

Paulo Liebert/AE
Inesperado. Adriana operou o primeiro tumor aos 39 anos

O coordenador do Setor de Mastologia do Icesp, José Roberto Filassi, diz que esse levantamento será feito também para outros tipos de câncer. Mama foi o primeiro justamente porque a incidência está aumentando em mulheres em idade reprodutiva. "Alguns defendem que há um aumento real, causado por mudanças de costumes. Outros dizem que os casos estão apenas sendo diagnosticados mais cedo. Os dois fatores pesam", afirma.

A grande preocupação é que a detecção da doença nas mulheres jovens é mais difícil. Primeiro porque elas não estão na idade em que exames são feitos rotineiramente e, mesmo quando a mamografia é realizada, a percepção do tumor é mais difícil. "A mulher jovem tem muito tecido glandular e pouca gordura. Isso dificulta a visualização dos sinais precoces do câncer", explica Afonso Nazário, do Departamento de Ginecologia da Unifesp.

Além disso, diz ele, o câncer de mama na mulher jovem costuma ser mais agressivo. Tem taxa de crescimento maior e mais risco de metástase. Mas, segundo Nazário, a incidência desse tipo de tumor cresce em todas as faixas etárias, não só em mulheres jovens. Levantamento feito pelo coordenador do Programa de Mastologia da Universidade Federal de Goiás, Ruffo de Freitas, confirma essa ideia. Ele analisou dados do Registro de Câncer de Base Populacional de Goiânia entre 2003 e 2008. Nas mulheres entre 20 e 49 anos, a taxa de crescimento anual foi de 4,8%. Entre as de 50 e 59 anos, de 6,3% e, entre as de 60 e 69 anos, de 5,8%%.

Quando ele avaliou o crescimento acumulado em todo o período, os resultados foram alarmantes: aumento de 134% entre mulheres de 20 a 29 anos; 104% entre 30 e 39; 127% entre 40 e 49 e 277% entre 50 e 59. Segundo Freitas, os dados de Goiânia refletem a realidade de todos os grandes centros urbanos do País e do mundo.

Especula-se que a explosão seja consequência da mudança no estilo de vida feminino. "No século 19, as mulheres menstruavam mais tarde e logo casavam e tinham filhos. Amamentavam mais tempo e entravam mais cedo na menopausa. A mama passava menos tempo sob o estímulo dos hormônios ovarianos", explica Nazário. Além disso, continua, a entrada no mercado de trabalho deixou a mulher mais predisposta a sofrer de estresse, depressão e ansiedade, fatores que enfraquecem as defesas do organismo contra o câncer.

Especialistas concordam que pouco se pode fazer para evitar o problema. A melhor forma de se proteger e diminuir a mortalidade é o diagnóstico precoce. "Não dá para a mulher jogar fora o que conquistou, sair do mercado de trabalho e voltar a ter um filho atrás do outro. Mas dá para detectar o câncer em fase inicial, quando é mais fácil tratar", afirma Nazário. Quando o tumor é diagnosticado e tratado quando o nódulo é menor que 1 centímetro, as chances de cura chegam a 95%.


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