domingo, 28 de setembro de 2008

Após 40 anos, FDA aprova nova droga para tratar gota

IARA BIDERMAN
colaboração para a Folha de S.Paulo

Neste fim de ano, o governo norte-americano aprovou a primeira nova droga em quatro décadas para tratamento de gota, considerada a forma de artrite inflamatória mais comum em homens acima dos 40 anos.
Há um mês, o comitê consultivo para artrite da FDA (agência americana reguladora de medicamentos) indicou, por unanimidade, o medicamento com o princípio ativo febuxostat para o controle da hiperuricemia (aumento dos níveis de ácido úrico no sangue) associada à gota.
Não há previsão sobre a entrada da droga no Brasil, mas especialistas acreditam que o aumento do interesse no controle da doença esteja relacionado a descobertas recentes que apontam a elevação do ácido úrico como um fator importante de risco cardiovascular.
Conhecida pelo menos desde a Antigüidade e chamada de "doenças dos reis", a gota afeta pessoas de todas as camadas da sociedade e pode se manifestar cedo --entre os 28 e 30 anos.
É mais prevalente em homens: "Há oito homens com gota para cada mulher [com a doença]", segundo Antonio Lopes Ferrari, médico-assistente da disciplina de reumatologia da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Estudos demonstram uma forte associação da doença com o nível de triglicérides no sangue e a hipertensão. "Cerca de 70% dos pacientes com gota têm triglicérides alto e 40%, pressão alta", diz Ivânio Alves Pereira, da Sociedade Brasileira de Reumatologia.

Risco cardiovascular

Segundo Pereira, só nos últimos anos a artrite gotosa começou a ser considerada um sinal importante de risco cardiovascular. Isso porque a doença é uma manifestação de altos níveis de ácido úrico no sangue.
"Estudos recentes mostraram que taxas elevadas de ácido úrico aumentam a chance de calcificação nas artérias", diz Ricardo Pavanello, supervisor de cardiologia clínica do HCor (Hospital do Coração), em São Paulo.
O cardiologista lembra que pessoas com altas taxas de ácido úrico podem não manifestar gota, mas estão no grupo de risco. É considerado elevado um nível de ácido maior do que 7 mg/dl em homens ou maior do que 6 mg/dl em mulheres.
Nas pessoas em que a hiperuricemia se manifesta na forma de artrite inflamatória, além do risco cardiovascular, há fatores relacionados ao distúrbio reumatológico. Quando o excesso de ácido úrico no sangue, transformado em cristais de urato de sódio, deposita-se nos tecidos, especialmente nas articulações, surge a gota. Os cristais podem ficar estacionados até a ativação de mecanismos inflamatórios que levam à crise.
Caracterizadas por dor súbita e intensa, inchaço, calor e vermelhidão local, as crises podem ser desencadeadas por ingestão excessiva de álcool e certos alimentos, situações de estresse ou microtraumas.
Os episódios agudos costumam regredir espontaneamente em um período de cinco a dez dias, mas, se não for tratada, a gota leva à formação de depósitos volumosos, que deformam os tecidos e lesionam as articulações, e pode gerar alterações nos rins.

Novas abordagens

Segundo o reumatologista Wagner Weidebach, do Hospital Sírio-Libanês, as novas abordagens em relação ao controle da hiperuricemia ainda não são levadas em conta por boa parte dos médicos. "O fator de risco cardiovascular já foi reconhecido, mas nem todo reumatologista sabe disso", afirma. Para alguns, ainda não há dados para estabelecer uma relação direta.
"Há pacientes com gota e comorbidades como hipertensão arterial, triglicérides ou colesterol alto, mas ainda não sabemos qual é o papel da gota na manifestações dessas doenças", diz Ferrari, da Unifesp.
Outra abordagem que está sendo revista é em relação à alimentação. Como o ácido úrico é produzido pela metabolização de purinas, alimentos ricos nesses compostos orgânicos eram proibidos aos portadores de gota. "A dieta tem cada vez menos peso no tratamento", afirma Weidebach.
Isso não significa que o controle alimentar não deva ser feito, até porque crises são desencadeadas pela ingestão exagerada de certos alimentos.

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