quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Demora para dormir é comum em crianças de até 5 anos


Idade e comportamento dos pais podem ser decisivos para o filho dormir melhor ou permanecer com problemas para relaxar


JULLIANE SILVEIRA
da Folha de S.Paulo
Até os três anos, Luiza Basílio Ribeiro, 4, acordava diversas vezes à noite, chamava os pais ou pedia para ficar no quarto deles. Isso quando não resolvia brincar em plena madrugada --de preferência, a-companhada. Agora, sua dificuldade é outra: demora a dormir e, para pegar no sono, precisa assistir a um programa na TV, tomar leite na mamadeira ou ter no quarto a presença de um adulto. "Às vezes, ela começa a conversar, se empolga e não quer dormir de jeito nenhum", conta a psicóloga Gabriela Basílio Ribeiro, 35, mãe da menina.
Luiza está na faixa etária em que os problemas de sono são mais comuns, de acordo com especialistas. "Até os cinco anos de idade, cerca de 30% das crianças despertam no meio da noite ou demoram para iniciar o sono", diz Gustavo Moreira, pediatra e pesquisador do Instituto do Sono da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo).
Sam Hatch/SXC
Idade e comportamento dos pais podem ser decisivos para o filho dormir melhor ou permanecer com problemas para relaxar
E não é somente a idade que contribui para a instabilidade do sono das crianças. O comportamento dos pais também pode ser decisivo para o filho dormir melhor ou permanecer com esses distúrbios, como mostrou uma pesquisa da Universidade de Montreal, no Canadá, divulgada na edição de abril da "Archives of Pediatrics and Adolescent Medicine".
Foi avaliado o comportamento dos pais de 987 crianças, de seus cinco meses a seus seis anos, e foram analisados o tempo de sono, a demora para dormir e a incidência de pesadelos. "Descobrimos que, se a criança apresenta problemas para dormir dos 5 aos 17 meses, seus pais têm mais chances de desenvolver hábitos que podem contribuir para a persistência dessa dificuldade", disse à Folha Valérie Simard, uma das responsáveis pela pesquisa.
O estudo apontou que algumas reações dos pais aos despertares noturnos dos filhos de dois a três anos, como dar-lhes algo para comer ou beber, levá-los para dormir na própria cama e confortar a criança fora da sua cama, estariam associadas a pesadelos, tempo de sono mais curto do que o recomendado e demora a iniciar o sono a partir dos quatro anos.
Entre seis meses e um ano de idade, a criança passa por uma transição dos hábitos de sono, com diminuição do descanso diurno e despertares progressivamente reduzidos à noite. "O problema é que os pais insistem em manter os hábitos de recém-nascido, dão de mamar no colo e a criança aprende a dormir dessa forma", alerta Moreira. Assim, cria-se uma dependência para iniciar o sono, o que pode fazer com que a criança precise da intervenção de um adulto -associado à mamadeira ou ao colo, por exemplo- para voltar a dormir.
O raciocínio é o mesmo para outros maus hábitos dos pais, como permanecer no quarto até o filho dormir ou tirá-lo do ambiente se acordar no meio da noite. "Na primeira infância, a pessoa tem um sono que funciona por condicionamento", explica Márcia Pradella, neuropediatra do serviço de medicina do sono do Hospital Sírio-Libanês. "Qualquer coisa que o pai arrume para o filho dormir vai torná-lo um escravo daquela situação, pois as crianças se habituam com isso", afirma.
Em alguns casos, uma doença pode desencadear todo o processo de má-adaptação para dormir. "Geralmente, começa com um problema de saúde: a criança é levada para o quarto dos pais e rapidamente se habitua a isso. O papel errôneo dos pais está em reforçar esse processo e não reconhecer isso como algo anormal", diz Flávio Aloe, neurologista do centro interdepartamental para estudos do sono do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo). Aloe também é responsável pela adaptação para o português de um clássico norte-americano sobre sono de crianças, "Solve Your Child's Sleep Problems" (resolva os problemas de sono de sua criança, em inglês), do pediatra e professor de neurologia Richard Ferber, que tem previsão de lançamento no Brasil na segunda quinzena de maio, com o título "Bom Sono" (ed. Rideel).
Uma alteração na saúde favoreceu as más noites de sono de Beatriz Queiroz de Oliveira, 4, que sofreu de refluxo até os sete meses e, por isso, acordou muitas vezes durante a noite até os três anos. Sua mãe, a fisioterapeuta Simone Sanches de Oliveira, 33, acredita que as interrupções do sono persistiram por hábito.
"Ficava perto, contava história, deixava chorar... mas nada adiantava." Ela crê que a melhora se deve ao tratamento homeopático a que a filha se submeteu recentemente. Já sua irmã, Carolina Queiroz de Oliveira, 10 meses, já mostra que dorme melhor em dias mais frios -ela se incomoda com o calor. "Ela precisa de roupas frescas e joga longe o cobertor nos dias quentes", conta Simone.
Reportagem publicada no dia 1º de maio de 2008 pelo jornal Folha de S.Paulo

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