domingo, 12 de outubro de 2008

Pacientes mentais vão receber preservativos do governo

Luciana Abade, Jornal do Brasil

BRASÍLIA - A infecção pelo HIV nos portadores de transtornos mentais é preocupante. O índice de infecção pelo vírus é de 0,80% nesse grupo, enquanto nos adultos da população geral é de 0,61%. A vulnerabilidade dos pacientes mentais é constatada, também, nos casos de sífilis e hepatites B e C. Os dados são do estudo inédito sobre a prevalência dessas doenças em instituições públicas de atenção em saúde mental realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) em parceria com o Ministério da Saúde.

Segundo o estudo, apenas 7% dos 2.238 pacientes entrevistados afirmaram usar preservativo em todas as relações sexuais. Um número muito pequeno quando considera-se que 88% dessas pessoas já tiveram relação sexual e 61% as tiveram nos últimos seis meses. Quase metade dos pacientes, 47,7%, sofre de esquizofrenia e psicose, 12,9% sofrem de transtorno depressivo e 9% são bipolares.

De acordo com a coordenadora do Programa Nacional de DST e Aids do Ministério da Saúde, Mariângela Simão, o estudo servirá para nortear políticas públicas para essa população. Inicialmente, essa política consistirá em distribuir preservativos nos centros de atenção psicossociais e hospitais da rede pública de saúde e treinar profissionais de saúde.

– O profissional de saúde não aborda os temas de saúde sexual – afirma Mariângela. – Falta uma percepção por parte desses profissionais de que esse pacientes têm uma vida sexual ativa. Além do problema claro de acesso aos insumos (preservativos).

Segundo a coordenadora, já foram distribuídas 360 milhões de preservativos em todo o Brasil em 2008. A previsão é que um bilhão de preservativos sejam distribuídos até o meio do ano que vem.

– Os pacientes de transtornos psíquicos têm uma vida normal do ponto de vista de sua sexualidade – afirmou Pedro Gabriel Delgado, coordenador de Saúde Mental do ministério. – Agora é preciso investir de maneira mais cuidadosa e eficaz nessa população. O fato de terem transtorno não impede que a pessoa saiba que deve se preservar.

Negligência

O psiquiatra Raphael Boechat, professor da Universidade de Brasília (UnB), discorda com a política adotada pelo ministério:

– A medida do ministério vai na contra-mão porque a assistência em saúde mental no Brasil está extremamente ruim. As políticas de saúde deveriam agir na causa e não nas consequências. Se você trata direito o doente, você corta os sintomas e ele agirá como uma pessoa dita normal. Ao invés de gastar fábulas de dinheiro em propagandas e distribuindo preservativos, deveriam investir no tratamento dessas pessoas.

A negligência sofrida pelos pacientes psiquiátricos graves no Brasil faz com que eles tenham uma taxa de mortalidade duas vezes maior, além de terem uma expectativa de vida dez anos menor que a população geral. Os pesquisadores atribuem essa constatação à falta de cuidados clínicos regulares com esses pacientes.

– O acesso desses indivíduos aos hospitais é menor – afirma Maurício Tostes, da Associação Brasileira de Psiquiatria. – Então, a preocupação não deveria ser apenas com as doenças sexualmente transmissíveis, mas com a saúde deles como um todo.

Para Tostes, é preciso que os governos criem programas de combate às doenças sexualmente transmissíveis para os grupos específicos. E dispense atenção especial aos pacientes psíquicos graves porque, muitas vezes, eles também são alvos de violência sexual e estão mais vulneráveis a trocar sexo por dinheiros e drogas.

O infectologista do hospital universitário da Universidade de São Paulo (USP), Fábio Franco, acredita que a distribuição de preservativos será eficaz se vier acompanhada de educação sexual para as e de treinamento para os profissionais de saúde.

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