De acordo com um novo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA, o número de casos registrados de sarampo aumentou mais de 30% em todo o mundo ano passado.
Este ano, o Ministério da Saúde brasileiro confirmou mais de mil casos no país até agosto. Desde 1999, o Brasil não registrava número tão alto de casos confirmados em um único ano. Na época, foram 908 casos.
Embora seja uma notícia triste, não é inesperada. Os cientistas já alertam há um tempo que o mundo não tem feito o suficiente para melhorar a cobertura de vacinação, fazendo com que essa doença evitável se propague em quase todos os cantos do globo.
Vacinação mundial
Embora o sarampo seja facilmente evitável por meio de duas doses de uma vacina, precisamos de cerca de 95% de cobertura para impedir que surtos aconteçam.
Esse objetivo ainda está longe de ser alcançado. Por quase uma década, não conseguimos que a cobertura de vacinação mundial passasse da marca de 85%.
Depois de anos de insucesso, as lacunas nessa vacinação estão finalmente mostrando suas consequências.
O aumento recente
Em 2017, o relatório constatou que cinco de todas as seis regiões da OMS no mundo experimentaram um surto de casos de sarampo, especialmente as Américas, a Europa e o Mediterrâneo Oriental.
Somente no Pacífico Ocidental o número de casos de sarampo diminuiu.
“Sem esforços urgentes para aumentar a cobertura vacinal e identificar populações com níveis inaceitáveis de crianças sub ou não imunizadas, corremos o risco de perder décadas de progresso na proteção de crianças e comunidades contra essa doença devastadora, mas totalmente evitável”, advertiu Soumya Swaminathan, vice-diretor de programas da OMS.
Consequências mortais
Para realmente entender o quão ruim isso pode ser, é só olhar para trás algumas gerações. Antes de 1963, quando não havia vacina contra o sarampo, o mundo experimentava um grande surto a cada poucos anos, causando 2,6 milhões de mortes anualmente.
Somente cinco décadas depois, estamos mais perto do que nunca de eliminar essa doença altamente contagiosa e potencialmente letal. Na verdade, países como os EUA, o Reino Unido, a Austrália, a Nova Zelândia e o Japão já conseguiram o feito, com muitas outras nações à beira de fazer o mesmo.
O impacto de tais medidas tem sido extraordinário. Desde a virada do século, a vacina contra o sarampo salvou mais de 21 milhões de vidas, diminuindo o número de mortos em 80% em apenas 17 anos.
No entanto, depois de anos de progresso, as coisas começaram a piorar, graças em grande parte à falta de financiamento e ao aumento da desinformação.
Vacine!
Ver o sarampo fazer um retorno global é como ver um personagem em um filme de terror tomar decisões estúpidas e evitáveis. Temos uma maneira segura e eficaz de eliminar o sarampo na ponta dos nossos dedos e, ainda assim, continuamos a não usar a arma em nossas mãos.
Em 2017, o relatório constatou que 20,8 milhões de crianças em todo o mundo não receberam a primeira vacina contra o sarampo.
Com o sarampo representando uma ameaça muito menor, muitas nações se tornaram negligentes em suas tentativas de garantir sua eliminação. Além disso, falsos rumores, equívocos e mitos sobre a vacina serviram para alimentar os recentes surtos.
Na Europa, onde a desinformação sobre a vacina contra o sarampo é particularmente evidente, a cobertura vacinal em algumas áreas é inferior a 70%.
“A complacência sobre a doença e a propagação de falsidades sobre a vacina na Europa, um sistema de saúde em colapso na Venezuela e bolsões de fragilidade e baixa cobertura de imunização na África estão se combinando para trazer um ressurgimento global do sarampo após anos de progresso”, explica Berkley.
Governos, ajam
O relatório clama por uma ação urgente. Os cientistas afirmam que precisamos de investimento sustentado para que os serviços de vacinação de rotina possam ser fortalecidos, especialmente entre as comunidades mais pobres e marginalizadas.
Ao mesmo tempo, argumentam que também precisamos garantir o apoio público às imunizações, combatendo a desinformação e a hesitação em torno das vacinas.
Por Natasha Romanzoti
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