terça-feira, 13 de maio de 2008

11% dos transplantes de fígado em SP são por hepatite fulminante

Na maioria dos casos, doença evolui para quadro em que 95% morrem em até 8 semanas se não recebem órgão

Emilio Sant'Anna

A hepatite fulminante foi a causa de 11% dos transplantes de fígado no Estado de São Paulo em 2007. A doença se instala em poucos dias e em cerca de 70% dos casos evolui para um quadro de insuficiência hepática aguda grave. Quando isso acontece, mais de 95% dos pacientes morrem entre três e oito semanas se não receberem um novo órgão.

Faltam dados oficiais sobre o diagnóstico da hepatite fulminante no Brasil. Em São Paulo, no entanto, os transplantes de fígado causados pela doença cresceram nos últimos dois anos. Em 2006, foram 28 procedimentos. No ano passado, a doença foi responsável por 48 cirurgias.

Mesmo assim, os especialistas estimam que esse tipo de hepatite ainda seja subnotificado pois pode ser confundido com outras formas e doenças do fígado. "Esse é um problema que precisa ser mais discutido com os médicos para que eles possam conhecer melhor e encaminhar os pacientes para lugares adequados", afirma o vice-presidente da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), Ben-Hur Ferraz Neto.

O médico acredita que os 444 transplantes de fígado realizados no Estado no ano passado seriam muito mais se a hepatite fulminante fosse corretamente diagnosticada. Devido à gravidade, os pacientes com esse diagnóstico têm preferência na fila de espera por um fígado. "Certamente existem casos que não são bem observados e o diagnóstico é confundido com outras doenças, como as icterícias (aumento da concentração de secreção da bílis, o que deixa a pele amarelada)", diz.

Algumas das causas do problema chamam a atenção. Além das hepatites virais (A e B) e doenças auto-imunes, o uso de medicamentos pode induzir o aparecimento da hepatite fulminante. Antibióticos, psicotrópicos, antidepressivos, remédios para diabetes, analgésicos (principalmente o paracetamol) e produtos a base de ervas, como os chás usados em dietas de emagrecimento, são potencias agentes de desencadeamento da hepatite fulminante.

A hepatologista Edna Strauss, do Hospital das Clínicas (HC), em São Paulo, explica que não se deve parar de fazer uso desses medicamentos. Porém, é preciso seguir corretamente as indicações médicas. "O consumo de paracetamol não deve ser superior a três comprimidos por dia", afirma. "Quanto aos chás, existem até mesmo relatos de que o chá verde pode causar a doença."

TRATAMENTO

Em menos de três meses, a educadora infantil, Dulce Aparecida da Silva Ortolan, de 42 anos, passou dos primeiros sintomas da doença à internação em estado de coma. A hepatite fulminante já havia evoluído para insuficiência hepática aguda grave quando chegou ao Hospital Albert Einstein. As causas da doença nunca foram esclarecidas. "Cheguei a receber a extrema-unção, mas felizmente consegui um novo fígado a tempo", diz ela, que antes de ficar doente tomava antidepressivos.

Acostumado a tratar de casos em que os pacientes precisam receber um novo órgão com urgência, Ferraz Neto, que também é coordenador do Programa de Transplantes do Hospital Israelita Albert Einstein, se prepara para chefiar no hospital o primeiro centro de transplantes especializado em hepatite fulminante do País.

A equipe do Einstein - que já é responsável por cerca de 50% desses transplantes no Estado - será composta por cirurgiões, nefrologistas, neurologistas, fisioterapeutas e fonoaudiólogos especializados no tratamento de pacientes em unidades de terapia intensiva (UTIs) e atenderá a pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS).

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