Maria Iglê/DN
É comum ouvirmos dizer que as crianças são o futuro do país. Então, será que o futuro do Brasil será de adultos cardíacos, hipertensos, doentes aumentando as filas dos serviços de saúde? Se depender da alimentação das crianças de hoje, isso é algo bem possível. Um estudo realizado pela Danone sobre os hábitos alimentares de crianças entre 2 e 6 anos, que estão frequentando a escola, de Norte a Sul do país revelou que, em geral, a dieta dos meninos e meninas é inapropriada. Há, por exemplo, um excesso de carboidratos e proteínas, carência de frutas, verduras e legumes, que são fontes de fibra, e carências e excessos de nutrientes.
As principais constatações do estudo são a ingestão insuficiente de cálcio e fibras, a baixa estatura, o consumo exagerado de sódio (encontrado no sal) e o excesso de peso. Para o coordenador médico do estudo em Natal, Hélcio Maranhão, esses resultados denunciam que os atuais hábitos alimentares estão ameaçando a saúde das crianças. ‘‘Tudo isso se resume ao estilo de vida moderno, no qual as dietas incluem comidas pré-preparadas, fast-foods, associado ao sedentarismo. As pessoas não têm tempo para escolher melhor os alimentos que estão à mesa’’, opina.
A nutricionista Fátima Nunes, que analisou a pesquisa a pedido do jornal, concorda que os tempos mudaram e tem constatado, em seu consultório, que essas mudanças não têm sido boas para a saúde da população. ‘‘As pessoas que hoje estão com 30 anos ou mais, já são reflexos dessas mudanças. É como se o organismo estivesse sentindo as conseqüências da velhice cada vez mais cedo’’, conta. A qualidade da alimentação e as mudanças na composição dos alimentos têm sido preocupações da nutricionista, que sabe o que isso pode representar para as crianças. ‘‘Não sei como elas vão chegar à velhice. As crianças vão lotar o serviço de saúde no futuro’’, alerta.
As doenças que podem advir das inadequações constatadas no estudo não são poucas. Osteoporose, pela falta de cálcio, a cefaléia, parada respiratória, delírio, hipertensão e eritema da pele (vermelhidão e irritação) são apenas algumas resultantes do alto nível de sal consumido. Diga-se de passagem: este ítem é ingerido três vezes mais que a quantidade diária recomendada. ‘‘Essa altíssima quantidade de sal é considerada até tóxica para o organismo’’, adverte Maranhão. Isso sem contar nos distúrbios que já estão se revelando no momento, como a baixa estatura, sobrepeso e obesidade. Segundo o coordenador, 8% das crianças natalenses que participaram são obesas e 17% têm sobrepeso, um dado que ele considera significativo.
O estudo revelou também que, mesmo com as diferenças regionais no cardápio e nos níveis sociais e econômicos, esse resultado é muito semelhante em todo o país. A diferença aparece quando as crianças da rede pública de ensino com as da rede privada são comparadas. Os alunos do ensino público, no caso, têm uma alimentação mais adequada. Segundo a pesquisa, isso ocorre em função do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), do Governo Federal. ‘‘O cardápio desses alunos é acompanhado por nutricionistas, enquanto alunos de rede privada recebem o dinheiro dos pais para lanchar salgados, refrigerantes e biscoitos’’, explicou Fátima Nunes que já acompanhou uma escola pública. Ainda como resultado do estudo, foi verificado que, nos domicílios, as crianças consomem mais gordura e colesterol e menos fibras e vitaminas que nas escolas. Ou seja, a alimentação em casa é mais densa e energética e com menor qualidade. ‘‘Com esse modernismo, o avanço tecnológico, a mãe não é só mãe. Agora ela entrou no mercado de trabalho. Antigamente você tinha um pai ou uma mãe que teria condições de fazer uma comida caseira’’, argumentou a nutricionista.
Nunes disse também que o alto consumo de alimentos industrializados pode ser uma das causas para os resultados da pesquisa. Estudando e participando de congressos, a nutricionista tomou conhecimento da composição dos alimentos industrializados. ‘‘A indústria tira toda a fibra, quando você faz isso tira também os micronutrientes. Além disso, acrescenta gordura, trans e saturada, sal e açúcar em excesso e glutamato monossódico para conservar e realçar o sabor’’, explica. Esses fatores são o que fazem desses alimentos inadequados para o consumo, nocivos à saúde.
Mas, afinal, se já é difícil educar um adulto a se alimentar de maneira saudável, como estimular uma criança? ‘‘É aquela velha reflexão: se você não come verdura, como vai querer que seu filho coma? A alimentação da criança é reflexo da do adulto’’, responde Fátima Nunes. E para ela, não há outra solução: a questão é estar aberto para mudar os hábitos alimentares. ‘‘Cada vez que leio, eu fico mais convencida do que estou dizendo. Ou o paciente se convece de que tem que deixar de comer certas coisas e comer outras, ou não vem mais às consultas’’, insiste.
Gidália Santana
da equipe de O POTI
É comum ouvirmos dizer que as crianças são o futuro do país. Então, será que o futuro do Brasil será de adultos cardíacos, hipertensos, doentes aumentando as filas dos serviços de saúde? Se depender da alimentação das crianças de hoje, isso é algo bem possível. Um estudo realizado pela Danone sobre os hábitos alimentares de crianças entre 2 e 6 anos, que estão frequentando a escola, de Norte a Sul do país revelou que, em geral, a dieta dos meninos e meninas é inapropriada. Há, por exemplo, um excesso de carboidratos e proteínas, carência de frutas, verduras e legumes, que são fontes de fibra, e carências e excessos de nutrientes.
As principais constatações do estudo são a ingestão insuficiente de cálcio e fibras, a baixa estatura, o consumo exagerado de sódio (encontrado no sal) e o excesso de peso. Para o coordenador médico do estudo em Natal, Hélcio Maranhão, esses resultados denunciam que os atuais hábitos alimentares estão ameaçando a saúde das crianças. ‘‘Tudo isso se resume ao estilo de vida moderno, no qual as dietas incluem comidas pré-preparadas, fast-foods, associado ao sedentarismo. As pessoas não têm tempo para escolher melhor os alimentos que estão à mesa’’, opina.
A nutricionista Fátima Nunes, que analisou a pesquisa a pedido do jornal, concorda que os tempos mudaram e tem constatado, em seu consultório, que essas mudanças não têm sido boas para a saúde da população. ‘‘As pessoas que hoje estão com 30 anos ou mais, já são reflexos dessas mudanças. É como se o organismo estivesse sentindo as conseqüências da velhice cada vez mais cedo’’, conta. A qualidade da alimentação e as mudanças na composição dos alimentos têm sido preocupações da nutricionista, que sabe o que isso pode representar para as crianças. ‘‘Não sei como elas vão chegar à velhice. As crianças vão lotar o serviço de saúde no futuro’’, alerta.
As doenças que podem advir das inadequações constatadas no estudo não são poucas. Osteoporose, pela falta de cálcio, a cefaléia, parada respiratória, delírio, hipertensão e eritema da pele (vermelhidão e irritação) são apenas algumas resultantes do alto nível de sal consumido. Diga-se de passagem: este ítem é ingerido três vezes mais que a quantidade diária recomendada. ‘‘Essa altíssima quantidade de sal é considerada até tóxica para o organismo’’, adverte Maranhão. Isso sem contar nos distúrbios que já estão se revelando no momento, como a baixa estatura, sobrepeso e obesidade. Segundo o coordenador, 8% das crianças natalenses que participaram são obesas e 17% têm sobrepeso, um dado que ele considera significativo.
O estudo revelou também que, mesmo com as diferenças regionais no cardápio e nos níveis sociais e econômicos, esse resultado é muito semelhante em todo o país. A diferença aparece quando as crianças da rede pública de ensino com as da rede privada são comparadas. Os alunos do ensino público, no caso, têm uma alimentação mais adequada. Segundo a pesquisa, isso ocorre em função do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae), do Governo Federal. ‘‘O cardápio desses alunos é acompanhado por nutricionistas, enquanto alunos de rede privada recebem o dinheiro dos pais para lanchar salgados, refrigerantes e biscoitos’’, explicou Fátima Nunes que já acompanhou uma escola pública. Ainda como resultado do estudo, foi verificado que, nos domicílios, as crianças consomem mais gordura e colesterol e menos fibras e vitaminas que nas escolas. Ou seja, a alimentação em casa é mais densa e energética e com menor qualidade. ‘‘Com esse modernismo, o avanço tecnológico, a mãe não é só mãe. Agora ela entrou no mercado de trabalho. Antigamente você tinha um pai ou uma mãe que teria condições de fazer uma comida caseira’’, argumentou a nutricionista.
Nunes disse também que o alto consumo de alimentos industrializados pode ser uma das causas para os resultados da pesquisa. Estudando e participando de congressos, a nutricionista tomou conhecimento da composição dos alimentos industrializados. ‘‘A indústria tira toda a fibra, quando você faz isso tira também os micronutrientes. Além disso, acrescenta gordura, trans e saturada, sal e açúcar em excesso e glutamato monossódico para conservar e realçar o sabor’’, explica. Esses fatores são o que fazem desses alimentos inadequados para o consumo, nocivos à saúde.
Mas, afinal, se já é difícil educar um adulto a se alimentar de maneira saudável, como estimular uma criança? ‘‘É aquela velha reflexão: se você não come verdura, como vai querer que seu filho coma? A alimentação da criança é reflexo da do adulto’’, responde Fátima Nunes. E para ela, não há outra solução: a questão é estar aberto para mudar os hábitos alimentares. ‘‘Cada vez que leio, eu fico mais convencida do que estou dizendo. Ou o paciente se convece de que tem que deixar de comer certas coisas e comer outras, ou não vem mais às consultas’’, insiste.
Gidália Santana
da equipe de O POTI
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