Um estudo havia sugerido que a idade limite do ser humano seria de 115 anos. Mas, segundo cientistas, nosso tempo máximo de vida ainda não foi estabelecido
Segundo pesquisadores, deve sim haver um tempo máximo de vida para os seres humanos, mas os dados disponíveis atualmente ainda não nos permitem afirmar com precisão qual é. (iStock/Getty Images)
Uma série de pesquisas, publicadas na revista científica Nature, refutaram estudos anteriores e chegaram à conclusão de que não há um tempo de vida máximo estabelecido para os seres humanos. Anteriormente, os pesquisadores acreditavam que as pessoas poderiam viver até os 115 anos de idade. Agora, os críticos levantaram a hipótese de que esse limite não existe ou que, pelo menos, ele ainda não foi comprovado.
Controvérsias
Em outubro passado, uma equipe de geneticistas liderada por Jan Vijg, da Faculdade de Medicina Albert Einstein, em Nova York, nos Estados Unidos, publicou no mesmo periódico um estudo mundial sobre o tempo de vida máximo, ou seja, qual a idade máxima que os humanos podem atingir. Eles analisaram diferentes tendências de idade máxima reportada a cada ano em quatro países, França, Japão, Reino Unido e Estados Unidos, entre 1968 e 2006.
De acordo com o levantamento, o tempo de vida máximo aumentou até 1994, mas se estabilizou nos anos seguintes. Com isso, os pesquisadores concluíram que a idade máxima do ser humano seria de 115 anos, visto que esse número não aumentou desde meados de 1990.
Eles também utilizaram um modelo matemático para prever a maior idade possível de ser atingida, que resultou em 125 anos. No entanto, a probabilidade seria menor que um caso a cada 10.000 por ano. Na época, o estudo foi recebido com muitas críticas pelos especialistas no assunto. Alguns pontos levantados foram a falha na interpretação dos dados e a falta de menções aos avanços da medicina, ainda por vir, que podem influenciar a longevidade.
Novas hipóteses
Agora, foi a vez de os críticos desse estudo explicarem seus argumentos na mais recente edição da Nature. Os pesquisadores Bryan Hughes e Siegfried Hekimi, ambos da Universidade McGill, no Canadá, apontaram erros na análise estatística anterior. Segundo eles, as conclusões poderiam variar conforme a fórmula matemática utilizada. Ou seja, não é possível prever a idade máxima do ser humano e, na verdade, ela pode ser ilimitada.
Levando em consideração os dados das pessoas com mais de 100 anos, a própria expectativa de vida pode aumentar, mesmo até 2300, data utilizado no estudo original. Eles ainda trouxeram dados estatísticos da expectativa de vida no Canadá para validar a teoria. Em 1920, um canadense esperava viver até os 60 anos. Já em 1980, essa expectativa mudou para 82 anos. Sendo assim, o tempo máximo de vida do ser humano, em geral, também pode variar.
Outros exemplos utilizados foram casos como o da italiana Emma Morano, que faleceu em abril deste ano aos 117 anos, e o da francesa Jeanne Calment, que morreu em 1997, aos 122 anos.
Métodos errados
Outros críticos também tiveram a chance de refutar os dados apresentados em outubro pela equipe de Vijg. James Vaupel, demógrafo do Centro Max Planck Odense, na Dinamarca, disse que os pesquisadores utilizaram dados desatualizados do banco de dados do Grupo de Pesquisa em Gerontologia. Além disso, o padrão utilizado pelos pesquisadores foi o de idade máxima de morte em um ano e não o de idade máxima já alcançada em cada país. “Em muitos anos, a pessoa viva mais antiga do mundo era mais velha do que a pessoa mais velha que morreu naquele ano”, explicou James ao site Live Science.
Já para Maarten Rozing, professor no Centro de Envelhecimento Saudável da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, a explicação e análise estatística dos pesquisadores não condizem com os dados reais. “A idade máxima está simplesmente aumentando ao longo do tempo e o que vemos como um declínio é um achado falso baseado em inspeção visual e estatísticas que não deveriam ser usadas dessa maneira”, disse ao site especializado The Scientist.
Limite de vida
Procurada, a equipe responsável pelo estudo original simplesmente discordou das críticas. “Às vezes, porque elas foram baseados em um mal-entendido, às vezes porque elas estavam claramente erradas e às vezes porque discordamos dos argumentos”, disse Vijg ao Live Science.
No entanto, de acordo com os críticos, as novas análises não querem dizer que somos imortais. O tempo máximo de vida humana deve, sim, existir, mas não é seguro afirmá-lo ainda. “Só estamos dizendo que o limite de vida pode ser de 115 anos, não que ele é”, explicou Hekimi ao site da Exame.
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