O hormônio GLP-1 é liberado quando comemos; é o que nos faz sentir “cheios”, ou saciados, no final da refeição. Receptores de GLP-1 também são ativados em partes do cérebro ligadas a uma sensação de recompensa. Isso indica que o hormônio está envolvido diretamente em nossa experiência de satisfação.
Cientistas chegaram à conclusão de que bloquear esses receptores pode impedir que fumantes sintam-se satisfeitos depois de um cigarro. “Sem esse tipo de recompensa, um fumante não vai continuar fumando. Ele pode reduzir a dependência e o risco de uma recaída”, afirma Elisabet Jerlhag, pesquisadora da Universidade de Gotemburgo, na Suécia.
Jerlhag e seus colegas investigaram essa nova arma em potencial na luta contra o tabagismo.
Os índices de fumantes diários e habituais estão em declínio, mas o fumo do tabaco continua a ser um grande desafio de saúde pública. Um em cada quatro noruegueses, por exemplo, fuma de vez em quando e os números de tais “fumantes parciais” são bastante estáveis. Mesmo aqueles que não são fumantes diários podem achar difícil largar seus cigarros de vez.
No caso do Brasil, ainda que o número de viciados em cigarro tenha diminuído quase pela metade nos últimos 25 anos, um estudo realizado pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), em parceria com a Universidade de Georgetown, nos Estados Unidos, mostrou que, hoje em dia, 16,8% dos brasileiros com 18 anos ou mais ainda conserva o hábito.
“A nicotina é notavelmente uma formadora de hábitos e muitas pessoas acham que é terrivelmente difícil parar de fumar. Precisamos começar a aceitar a dependência como uma doença que exige tratamento”, ressalta Jerlhag.
Para testar se o GLP-1 regula a satisfação, os pesquisadores experimentaram com outra substância química, exendina-4 (Ex4), que imita o efeito do GLP-1 em receptores. A substância foi administrada em um grupo de ratos de laboratório aos quais foram dadas doses de nicotina.
Os pesquisadores então observaram os padrões de movimento dos camundongos, assim como as liberações de dopamina no cérebro. Eles descobriram que a nicotina fez os animais se tornarem mais ativos, mas a adição de Ex4 reduziu essa atividade. No entanto, os ratos que a princípio não haviam recebido nicotina, não tiveram o efeito de redução de Ex4. A nicotina aumentou a liberação de dopamina no cérebro, mas esta foi reduzida quando Ex4 tinha sido dada anteriormente.
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Os cientistas concluíram, então, que os receptores de GLP-1 havia regulado o efeito da nicotina sobre as funções de recompensa no cérebro de ratos, e que Ex4 tinha diminuído o efeito da nicotina.
Os pesquisadores ainda apontam que experimentos mostraram o mesmo efeito mitigador de Ex4 com outras substâncias formadoras de hábito, como o álcool, anfetaminas e cocaína. “Como o Ex4 também reduziu a motivação para o consumo de sacarose, isso pode indicar que os receptores de GLP-1 desempenham um papel fundamental na satisfação criada por substâncias que causam dependência”, acrescentam.
Os estudiosos acreditam que substâncias que imitam o hormônio GLP-1 devem ser consideradas para ampliar as perspectivas de novos regimes de tratamento para combater o fumo e dependência da nicotina.
Este método, que impede de fumar ao acalmar o desejos pela nicotina, é diferente dos métodos existentes para o tratamento do uso habitual do tabaco, como adesivos de nicotina ou medicamentos, como a bupropiona ou vareniclina.
A esperança é que as descobertas possam conduzir ao desenvolvimento de novos medicamentos que imitam o GLP-1. Este tipo de medicamento já foi aprovado para o diabetes, de modo que deve ser relativamente fácil de obter a carta branca para usá-los para ajudar os fumantes a deixarem seu vício de lado.
“As recompensas são a principal razão por que nos tornamos viciados. Então, nós achamos que medicamentos que funcionem da mesma forma que o GLP-1 podem ter um impacto positivo sobre a dependência da nicotina. Esta é uma abordagem totalmente nova”, comemora Jerlhag.[Science Nordic]
fonte:http://hypescience.com/cientistas-criam-tratamento-que-previne-que-fumantes-sintam-se-satisfeitos-apos-fumar
Por Bruno Calzavara