www.segs.com.br - Fonte ou Autoria é : Márcia Wirth
Recentemente, ficamos conhecendo os resultados do maior estudo científico já realizado comparando a eficácia das dietas para emagrecer.
O estudo foi realizado por especialistas da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de Harvard e publicado na revista inglesa de grande credibilidade no meio médico, o New England Journal of Medicine.
O trabalho avaliou as várias vertentes das dietas populares como a do Dr Atkins, que reduz carboidratos; a do Dr Ornish, que restringe o teor de gorduras e a Dieta do Mediterrâneo, com restrição da carne vermelha. São concepções totalmente diversas de dietas, mas após dois anos, o resultado com a perda de peso foi o mesmo, quando se comparou os diferentes grupos de pacientes submetidos às diferentes dietas. “Comprova-se então o que os estudiosos vêm afirmando há muito tempo. O que engorda não é consumir carboidratos, proteínas ou até gorduras. O que provoca o aumento dos estoques de gordura corporal é o consumo excessivo de calorias, sejam elas provenientes de chocolates, frutas, picanha ou pão”, afirma a endocrinologista Ellen Simone Paiva, diretora do Citen, Centro Integrado de Terapia Nutricional.
De maneira inversa, o que faz emagrecer não é tirar o pão, não comer arroz, abolir o jantar ou passar o dia comendo frutas. “O que realmente faz emagrecer é quando o total das calorias consumidas por uma pessoa é menor do que o total de calorias que essa pessoa ingeriu”, observa a médica.
A conclusão óbvia é a de que conseguimos emagrecer quando comemos menos ou gastamos mais, ou, o que é mais inteligente, ingerimos um pouco menos e gastamos um pouco mais. Parece simples, mas não é. Se fosse tão simples o mundo não estaria “tão gordo” como descreve o Dr. Barry Popkin em seu recém-lançado livro The world is fat ou O mundo está gordo.
“De acordo com o professor de Nutrição da Universidade da Carolina do Norte nos Estados Unidos, somos 1,6 bilhões de pessoas com sobrepeso no mundo em oposição aos 700 milhões de desnutridos do Planeta. Em termos gerais, as razões para tamanho aumento de peso passam pelas transformações tecnológicas às quais estamos expostos, globalização, políticas governamentais e indústria de alimentos. Em termos individuais, as pessoas buscam formas práticas e possíveis de conseguirem perder peso e, nesse contexto, entram as várias dietas populares para emagrecer”, diz a endocrinologista.
De acordo com o estudo recém-publicado ao qual nos referimos no início do texto, quando pensamos em perder peso, o que importa são as calorias. “Entretanto, é bom que se esclareça que a perda de peso, por si só, não garante saúde. E que o objetivo de uma dieta, seja ela para emagrecer ou para engordar, para tratar uma pessoa com diabetes, com colesterol elevado, com hipertensão arterial ou com problemas de gordura no fígado deve sempre primar pelo poder de alimentar corretamente o indivíduo. Uma dieta deve, acima de qualquer coisa, ser saudável”, destaca Ellen Paiva, que também é médica nutróloga.
A partir desse contexto, as coisas todas mudam, quando analisamos as dietas, pois elas são totalmente diferentes em relação ao poder de promover nutrição e saúde. Uma dieta saudável deve atender às nossas demandas de macronutrientes (proteínas, carboidratos e gorduras) e de micronutrientes (vitaminas e sais minerais). Logo, quando analisamos a Dieta Revolucionária do Dr Atkins, utilizada pelos participantes do estudo, podemos notar que ela se baseia em alimentos ricos em gordura saturada e não atende às nossas necessidades de micronutrientes. Ela emagrece, mas ela não serve aos preceitos de uma dieta saudável. “Não serve porque não alimenta de forma completa e não adianta dizer que isso pode ser alcançado associando-se um punhado de comprimidos e suplementos vitamínicos, porque isso é empírico. A dieta não serve porque sobrecarrega os rins, com excesso de proteínas, e as coronárias, com excesso de colesterol”, alerta a endocrinologista.
Uma dieta deve ser viável, além de saudável
Uma dieta, mesmo que saudável, para ser incorporada e se tornar viável deve atender à tradição de um povo e não pode ser mudada drasticamente. Um exemplo disso é o que acontece com a Dieta Mediterrânea. É conhecida, entre os países europeus, a baixa taxa de mortalidade por razões cardiovasculares entre os povos da área do Mediterrâneo - Itália, França, Espanha e Portugal - em relação aos países do norte e do leste europeu.
A explicação mais provável para esse fenômeno está relacionada à Dieta Mediterrânea, uma forma de alimentação cuja principal característica é sua riqueza em gordura monoinsaturada e polifenóis, provenientes principalmente do azeite. Os povos mediterrâneos consomem muitas frutas, cereais e hortaliças, vinho tinto regularmente e uma quantidade muito pequena de gordura saturada, sob a forma de carne vermelha. “O grande benefício da Dieta Mediterrânea pode estar na associação de vários alimentos benéficos juntamente com uma drástica redução no consumo de carne vermelha. Isso inviabiliza a imposição desse modelo de dieta a um povo que tem na carne vermelha um dos itens principais de seu cardápio. Essa dieta é muito saudável, mas pouco aplicável aos brasileiros”, diz Ellen Paiva.
Outro exemplo de dieta saudável e pouco viável para os brasileiros são as dietas orientais à base de soja. “Podemos consumir soja esporadicamente, podemos aprender a utilizá-la em nosso cardápio e até a preparar alguns pratos com ela, mas é muito difícil incorporar um cardápio com a quantidade de proteína de soja igual aos orientais. Aqui no Brasil é muito mais fácil preparar um cardápio onde a proteína vegetal seja o feijão, que além de profundamente arraigado em nosso costume alimentar, tem a riqueza nutricional adequada para compor com o arroz o nosso prato mais tradicional”, explica a médica.
“Ao analisarmos os resultados da pesquisa, podemos constatar que os autores conseguiram comprovar o que já afirmávamos antes: não são os carboidratos os vilões do ganho de peso e qualquer forma de redução calórica é eficaz, mas, para que essa eficácia se traduza em saúde, continuamos com as mesmas orientações anteriores: uma dieta deve ser balanceada e deve atender às necessidades nutricionais de uma pessoa. Não devemos nos engajar em dietas à base de proteínas, mas também não precisamos abolir toda a carne vermelha do nosso cardápio. O equilíbrio ainda é o objetivo na vida e nas dietas”, conclui a endocrinologista Ellen Paiva.
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