Não ter um sistema imunológico significa a morte por infecções e doenças. Mas e quando as nossas defesas se mostram tão exageradas que trazem problemas? Algumas doenças inflamatórias bastante conhecidas causadas por um sistema imunológico muito ativo são as alergias e artrite reumatoide. Mas o que tudo isso tem a ver com a depressão?
Um pesquisador da Universidade de Cambrigde (Reino Unido), Ed Bullmore, vê uma conexão entre a depressão e a inflamação que muita gente ainda não identificou: “A depressão e a inflamação muitas vezes andam de mãos dadas. Se você tem uma gripe, o sistema imunológico reage a isso, e você fica inflamado e muitas pessoas relatam mudanças de humor neste período. Quando o humor muda, eles se tornam menos sociais, mais sonolentos e mais retraídos”. Estes sintomas batem perfeitamente com os sinais clássicos da depressão.
“Eles podem começar a ter pensamentos negativos que são característicos da depressão”, diz o pesquisador. Esta hipótese traz uma pequena mudança na forma de analisar a depressão. Ele sugere que não nos sentimos mal apenas porque estamos fisicamente doentes, mas sim por mudanças no nosso humor causadas pela inflamação.
Pacientes depressivos têm mais inflamações
Ao analisar os dados sobre pacientes com depressão, Bullmore percebeu que eles mostram altos níveis de inflamação. Hayley Mason, uma mulher de 30 anos de Cambridgeshire, é uma delas. “Minha depressão é tão ruim que não consigo sair da cama, não consigo sair do quarto, não consigo descer as escadas para passar tempo com meu parceiro e seus filhos”. Ela também conta que seus exames de sangue revelam muitos marcadores de inflamação: “acho que o normal é menos de 0.7 e o meu é 40”, diz.
Assim, o pesquisador estuda a possibilidade de que a inflamação não é apenas um problema encontrado em pacientes depressivos, mas sim uma das coisas que pode estar tornando-os deprimidos. O sistema imunológico pode estar alterando o funcionamento do cérebro.
Artrite reumatoide
Médicos de pacientes da clínica Glasgow Royal Infirmary também notaram algo peculiar. Pacientes com artrite reumatoide que recebiam tratamento anti-inflamatório mostraram melhora significativa no humor.
Iain McInnes, um dos reumatologistas da clínica, afirmou: “quando passamos esse tipo de tratamento, vemos uma melhora rápida na sensação de bem-estar, e no estado de humor. Essa melhora é notavelmente desproporcional com a quantidade de inflamação observada nas juntas e na pele”.
Isso mostra que os pacientes provavelmente não se sentem melhor apenas pelo desaparecimento da dor nas juntas, mas sim que algo mais está acontecendo. “Escaneamos o cérebro de pacientes com artrite reumatoide e passamos um tratamento muito específico com foco no sistema imunológico”, descreve o médio.
Quando as pessoas passaram por novo exame de imagem, mudanças foram observadas no cérebro. “O que estamos começando a ver é que quando damos anti-inflamatórios, mudanças notáveis acontecem nos circuitos neuroquímicos do cérebro”, diz ele. “Os caminhos cerebrais envolvidos na mediação da depressão mudaram em pessoas que sofreram intervenções imunológicas”.
O professor de psiquiatria biológica Carmine Pariante, do King’s College London, tem reunido informações sobre depressão e inflamação há 20 anos. “Cerca de 30 a 40% dos pacientes deprimidos têm altos níveis de inflamação, e nessas pessoas, acreditamos que isso é parte do processo que causa a depressão”, diz ele.
“Sabemos através de estudos que se você tem altos níveis de inflamações hoje, você tem grandes riscos de se tornar depressivo nas próximas semanas ou meses mesmo que esteja completamente bem”, alerta o médico.
Outro fato importante observado por ele é que os pacientes com sistema imunológico muito atuante também mostram menor resposta aos anti-depressivos. Isso pode explicar porque 30% dos pacientes com depressão não melhoram com esses medicamentos.
Fatores que desencadeiam inflamação
Pariante argumenta que momentos de grande estresse e perda na vida das pessoas podem mudar o funcionamento do sistema imunológico, aumentando os riscos do desenvolvimento de depressão anos mais tarde.
Jennifer Streeting, uma parteira em treinamento de Londres, afirma que seus problemas de saúde mental começaram quando ela tinha 14 anos. “Minha avó morreu e minha mãe teve câncer de mama. Se você perguntar para minha terapeuta, ela vai dizer que isso aconteceu porque tive muita dor e não consegui lidar com ela naquela época”.
Novo tratamento
“Temos informações que mostram que adultos com histórico de traumas no início da vida, mesmo que sem nunca ter depressão, têm um sistema imunológico muito ativo”, diz Pariante.
“Acreditamos que ao medir a inflamação através de exames de sangue, vamos poder identificar indivíduos que precisam de tratamentos mais complexos da depressão, talvez com combinação entre antidepressivos e anti-inflamatórios”, diz ele.
Com essas informações, o Wellcome Trust, uma das maiores instituições beneficentes de pesquisa do mundo, espera reunir universidades e a indústria farmacêutica para criar um novo tratamento para a depressão e também criar um teste para identificar aqueles que vão se beneficiar deste tratamento.
“Isso é revolucionário porque, pela primeira vez, estamos demonstrando que depressão não é apenas uma doença da mente, na verdade não é nem uma doença do cérebro, mas uma doença do corpo inteiro”, diz Pariante. [BBC]
por Juliana Blume
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