Paloma Oliveto
Publicação: 09/03/2010 08:00
O nome é um pouco indigesto, e o gosto também não chega a ser o de uma guloseima. Mas os efeitos da ração humana sobre os quilos a mais têm provocado euforia no Brasil. O misto de farelos já era um velho conhecido dos nutricionistas, que há tempos fazem a prescrição aos pacientes. Uma empresa de produtos naturais, porém, lançou a fórmula pronta no mercado e bastou que um famoso programa semanal da televisão mostrasse os benefícios dos ingredientes para que a ração virasse febre no país.
A desenvolvedora de web Regina Rizzo, 24 anos, gostou tanto do resultado que resolveu dividir a ração com a família toda. Em janeiro, conversando sobre dietas com um colega de trabalho, ela ouviu falar pela primeira vez sobre a mistura de farelos. Comprou os ingredientes e preparou a ração em casa. Em sete dias, perdeu 2kg. “Eu não tinha percebido, já estava desanimando, mas quando me pesei, animei de novo”, comemora a jovem, que tem dificuldades para emagrecer. Até agora, foram 5kg a menos.
A nutricionista funcional Carina Tafas, especialista em personal diet pela escola de nutrição NTR de Porto Alegre, explica que pessoas com deficiência de vitaminas do complexo B têm dificuldades para emagrecer e, como a ração é rica desses nutrientes, o processo é facilitado. Além disso, as fibras ajudam a regular o intestino, estimulam a digestão, desintoxicam e inibem a absorção da gordura. “Porém, somente da refeição que foi feita junto com a ração. Ela não diminui a gordura já acumulada no organismo”, alerta.
No começo, Regina resolveu, por conta própria, substituir duas refeições por dia. “Mas comecei a sentir a boca muito amarga. Diminuí para uma vez ao dia, no café da manhã, e melhorei”, conta. Como a ração não faz milagres, a jovem procura fazer refeições leves, além de comer barras de cereal ou frutas a cada três horas.
Sob orientação
Para evitar incômodos como o passado por Regina, a nutricionista Joana Lucyk, da clínica Saúde Ativa, especializada em nutrigênese, diz que os candidatos à ração deveriam procurar um especialista. “Desse modo, se garante a indicação de utilização na quantidade adequada, assim como a definição dos melhores componentes para cada caso específico. As fórmulas prontas têm composições, calorias e quantidades de nutrientes diferentes e, portanto, pessoas diferentes têm indicação de uso diferentes”, argumenta.
Carina Tafas lembra que, para algumas pessoas, a ração comprada pronta pode fazer mal à saúde. É o caso de diabéticos, que não podem ingerir o cacau e o açúcar mascavo, e dos hipertensos, que não devem tomar o guaraná, substância estimulante. “Como muitos ingredientes da ração contêm glúten, ela deve ser evitada por pessoas alérgicas à substância, que podem sofrer com inflamação intestinal. É preciso tomar muito cuidado com a individualidade bioquímica”, diz a nutricionista.
Ela lembra que há outras doenças relacionadas à intolerância ao glúten, como psoríase e artrite reumatoide, cujos sintomas podem piorar por causa da ração. Quem sofre de males do cólon também deve ficar longe da mistura, porque a tendência a inflamações no intestino pode se agravar. Nesses casos, a ração só é indicada com acompanhamento de um especialista, que vai substituir os ingredientes agressivos por outros tolerados pelo organismo.
Valor nutritivo
Embora variem, as receitas são preparadas à base de componentes com rico valor nutritivo, como cacau, quinua real, soja, aveia e trigo (veja arte). Alguns dos ingredientes combatem os radicais livres, um dos vilões do emagrecimento, outros regulam o colesterol, sem falar na quantidade de vitaminas e minerais que levam para o organismo. “São muitas as substâncias, e a maioria delas são fontes de fibras. Quando se mistura os alimentos, obtém-se boa quantidade de fibras solúveis e insolúveis. Portanto, essa mistura ajuda na regulação intestinal, no controle de produção de colesterol e age na saciedade. A maioria dos ingredientes são boa fonte de carboidratos, de minerais e vitaminas do complexo B”, explica Joana Lucyk.
Cunhada de Regina Rizzo, a bancária Juliana de Sousa Faleiro Machado, 31 anos, entrou na distribuição familiar da ração e também está aprovando o resultado. Tirando o carnaval e uma semana de férias, período nos quais tirou folga do mix, ela seguiu a dieta por três semanas. Em cada uma, perdeu 1kg.
Juliana, que pretende perder 20kg, costuma usar a ração em substituição ao café da manhã. Na hora do almoço e no jantar, opta por refeições leves. “Eu não consigo fazer dieta radical”, confessa a bancária, que já tentou vários regimes, mas largou no meio do caminho. Como a ração não exige uma mudança significativa nos hábitos alimentares, resolveu apostar. “Não deixo de tomar uma cervejinha no fim de semana nem de comer sushi de vez em quando. Mas, sozinha, a ração não funciona. Tem mesmo que fechar a boca.”
Esse é o conselho da nutróloga (médica especialista em nutrição) Lívia Zimmerman, membro da diretoria da Associação Brasileira de Nutrologia. “A fórmula não é mágica. Como há muitos componentes calóricos, se a pessoa comer demais, vai engordar, em vez de emagrecer”, diz. Embora reconheça as vantagens dos ingredientes, a médica afirma: “A ração não vai fazer ninguém emagrecer. O que emagrece é o que você vai deixar de comer, já que, se você ingere muita proteína, fica saciada e não sente necessidade de comer muito”. De acordo com a nutróloga, para chegar ao objetivo de emagrecer, a pessoa precisa substituir uma refeição por dia pela ração, que pode ser batida com leite de soja, iogurte ou com frutas.
Já para a nutricionista Joana, as pessoas devem usar o mix como complemento, “visando o equilíbrio alimentar”. “Como a composição é rica em vitaminas, minerais, carboidratos, gorduras de boa qualidade, fibras e proteínas, ela pode promover a recuperação de falhas nutricionais e um melhor equilíbrio nutricional no organismo e, então, auxiliar no processo de emagrecimento. O emagrecimento é consequência do equilíbrio nutricional”, defende.
Assim como Lívia, Joana recomenda moderação no uso da ração humana. “O excesso desse alimento não implicará necessariamente perda de peso. Ele pode ser utilizado diariamente, mas com moderação”, afirma. Segundo ela, é difícil padronizar a quantidade que deve ser utilizada, mas, no geral, pode-se falar em um consumo médio de uma a três colheres de sopa por dia, acompanhado por uma dieta saudável, equilibrada e adequada às necessidades individuais. Ambas as profissionais recomendam a compra de ingredientes embalados e ensacados. Em feiras, os cereais são vendidos a granel, mas correm o risco de contaminação, lembram.
Ouça entrevista com a nutricionista Carina Cafas:
Regina (à frente) e a cunhada Juliana adotaram a ração no café da manhã: emagrecimento aos poucos |
A nutricionista funcional Carina Tafas, especialista em personal diet pela escola de nutrição NTR de Porto Alegre, explica que pessoas com deficiência de vitaminas do complexo B têm dificuldades para emagrecer e, como a ração é rica desses nutrientes, o processo é facilitado. Além disso, as fibras ajudam a regular o intestino, estimulam a digestão, desintoxicam e inibem a absorção da gordura. “Porém, somente da refeição que foi feita junto com a ração. Ela não diminui a gordura já acumulada no organismo”, alerta.
No começo, Regina resolveu, por conta própria, substituir duas refeições por dia. “Mas comecei a sentir a boca muito amarga. Diminuí para uma vez ao dia, no café da manhã, e melhorei”, conta. Como a ração não faz milagres, a jovem procura fazer refeições leves, além de comer barras de cereal ou frutas a cada três horas.
Sob orientação
Para evitar incômodos como o passado por Regina, a nutricionista Joana Lucyk, da clínica Saúde Ativa, especializada em nutrigênese, diz que os candidatos à ração deveriam procurar um especialista. “Desse modo, se garante a indicação de utilização na quantidade adequada, assim como a definição dos melhores componentes para cada caso específico. As fórmulas prontas têm composições, calorias e quantidades de nutrientes diferentes e, portanto, pessoas diferentes têm indicação de uso diferentes”, argumenta.
Ela lembra que há outras doenças relacionadas à intolerância ao glúten, como psoríase e artrite reumatoide, cujos sintomas podem piorar por causa da ração. Quem sofre de males do cólon também deve ficar longe da mistura, porque a tendência a inflamações no intestino pode se agravar. Nesses casos, a ração só é indicada com acompanhamento de um especialista, que vai substituir os ingredientes agressivos por outros tolerados pelo organismo.
Valor nutritivo
Embora variem, as receitas são preparadas à base de componentes com rico valor nutritivo, como cacau, quinua real, soja, aveia e trigo (veja arte). Alguns dos ingredientes combatem os radicais livres, um dos vilões do emagrecimento, outros regulam o colesterol, sem falar na quantidade de vitaminas e minerais que levam para o organismo. “São muitas as substâncias, e a maioria delas são fontes de fibras. Quando se mistura os alimentos, obtém-se boa quantidade de fibras solúveis e insolúveis. Portanto, essa mistura ajuda na regulação intestinal, no controle de produção de colesterol e age na saciedade. A maioria dos ingredientes são boa fonte de carboidratos, de minerais e vitaminas do complexo B”, explica Joana Lucyk.
Cunhada de Regina Rizzo, a bancária Juliana de Sousa Faleiro Machado, 31 anos, entrou na distribuição familiar da ração e também está aprovando o resultado. Tirando o carnaval e uma semana de férias, período nos quais tirou folga do mix, ela seguiu a dieta por três semanas. Em cada uma, perdeu 1kg.
Juliana, que pretende perder 20kg, costuma usar a ração em substituição ao café da manhã. Na hora do almoço e no jantar, opta por refeições leves. “Eu não consigo fazer dieta radical”, confessa a bancária, que já tentou vários regimes, mas largou no meio do caminho. Como a ração não exige uma mudança significativa nos hábitos alimentares, resolveu apostar. “Não deixo de tomar uma cervejinha no fim de semana nem de comer sushi de vez em quando. Mas, sozinha, a ração não funciona. Tem mesmo que fechar a boca.”
Esse é o conselho da nutróloga (médica especialista em nutrição) Lívia Zimmerman, membro da diretoria da Associação Brasileira de Nutrologia. “A fórmula não é mágica. Como há muitos componentes calóricos, se a pessoa comer demais, vai engordar, em vez de emagrecer”, diz. Embora reconheça as vantagens dos ingredientes, a médica afirma: “A ração não vai fazer ninguém emagrecer. O que emagrece é o que você vai deixar de comer, já que, se você ingere muita proteína, fica saciada e não sente necessidade de comer muito”. De acordo com a nutróloga, para chegar ao objetivo de emagrecer, a pessoa precisa substituir uma refeição por dia pela ração, que pode ser batida com leite de soja, iogurte ou com frutas.
Já para a nutricionista Joana, as pessoas devem usar o mix como complemento, “visando o equilíbrio alimentar”. “Como a composição é rica em vitaminas, minerais, carboidratos, gorduras de boa qualidade, fibras e proteínas, ela pode promover a recuperação de falhas nutricionais e um melhor equilíbrio nutricional no organismo e, então, auxiliar no processo de emagrecimento. O emagrecimento é consequência do equilíbrio nutricional”, defende.
Assim como Lívia, Joana recomenda moderação no uso da ração humana. “O excesso desse alimento não implicará necessariamente perda de peso. Ele pode ser utilizado diariamente, mas com moderação”, afirma. Segundo ela, é difícil padronizar a quantidade que deve ser utilizada, mas, no geral, pode-se falar em um consumo médio de uma a três colheres de sopa por dia, acompanhado por uma dieta saudável, equilibrada e adequada às necessidades individuais. Ambas as profissionais recomendam a compra de ingredientes embalados e ensacados. Em feiras, os cereais são vendidos a granel, mas correm o risco de contaminação, lembram.
Ouça entrevista com a nutricionista Carina Cafas: