quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Superbactéria resiste a todos os antibióticos usados nos EUA e mata mulher


Uma mulher do estado americano de Nevada morreu em setembro do ano passado de uma infecção causada por uma superbactéria que resistiu a todo tipo de antibióticos usados nos EUA. O incidente, que veio à tona somente neste mês, é parte do crescente problema de resistência aos antibióticos, que, segundo estimativas, causará 10 milhões de mortes em 2050.

“Eu acho que é preocupante. Nós dependemos há muito tempo apenas de antibióticos cada vez mais novos. Mas, obviamente, as bactérias podem muitas vezes desenvolver resistência mais rápido do que podemos criar novos antibióticos”, alerta Alexander Kallen, médico da divisão de promoção de qualidade de cuidados de saúde do Centro de Controle de Doenças e Prevenção, nos EUA.

“As pessoas continuam me perguntando quão perto estamos de cair no precipício”, diz o Dr. James Johnson, professor de medicina de doenças infecciosas da Universidade de Minnesota, nos EUA. A queda a que ele se refere é o dia em que as bactérias resistentes aos medicamentos serão capazes de superar o arsenal mundial de antibióticos. As infecções comuns seriam então intratáveis. A resposta de Johnson não é nada animadora: “Nós já estamos caindo do penhasco, já está acontecendo, as pessoas estão morrendo, está aqui, agora. Claro, vai piorar, mas já estamos lá”, aponta.
Superbactérias

Esse tipo de bactéria é conhecida como “superbactéria”, e pertencem a uma família de bactérias resistentes aos antibióticos. Em casos como a mulher de Nevada, que estava infectada com Klebsiella pneumoniae, resistente aos 26 antibióticos usados no tratamento, o termo “superbactéria dos pesadelos” foi cunhado porque esta superbactéria em particular foi resistente até mesmo a antibióticos desenvolvidos como um último recurso contra a infecção bacteriana.

Um relatório britânico estima que, globalmente, 700.000 pessoas morrem a cada ano de infecções que são resistentes aos medicamentos. Em muitos desses casos, a resistência da infecção foi descoberta muito tarde, talvez antes que uma última droga eficaz, finalmente, fosse ministrada. Em países pobres, os antibióticos mais novos e mais caros não estão disponíveis.

O caso de Nevada é diferente. A resistência foi descoberta cedo no tratamento, mas mesmo as drogas vistas como a última linha de defesa não funcionaram. A mulher descrita no relatório estava na casa dos 70 anos e foi tratada em um hospital na cidade de Reno. Cerca de dois anos atrás, em uma visita prolongada à Índia, ela quebrou um fêmur, de acordo com o relatório. A mulher teve várias hospitalizações na Índia por causa de infecções, diz o Dr. Lei Chen, do Distrito de Saúde Washoe County, em Reno, e um dos autores do relatório.

Quando a paciente foi internada no hospital de Reno, os profissionais de saúde descobriram que a amostra de bactérias testada era resistente a uma classe de antibióticos chamados carbapenemas – enterobactérias resistentes a carbapenem. “Antes, poderíamos nos apoiar nos carbapenemas, e eles poderiam confiavelmente varrer as bactérias”, diz Johnson. “Este caso quebrou até mesmo a nossa última grande arma”.

A hospitalização mais recente da mulher para a infecção na Índia tinha sido em junho de 2016. Ela foi internada em um hospital em Reno, em agosto, e funcionários do departamento de saúde do estado foram notificados que ela tinha CRE. “Os resultados do laboratório mostraram que ela era resistente a todos os 14 medicamentos testados”, diz Chen. Outros testes no laboratório do CDC mostraram resistência a 26 antibióticos. Ela morreu em setembro de falência múltipla de órgãos e septicemia. “Esta foi a minha primeira vez que vimos um padrão tão resistente”, diz Chen.

Precauções e ações
As infecções de CRE são mais comuns na Índia e no Sudeste Asiático. As razões não são claras, mas todas as infecções se espalham mais facilmente em partes do mundo com instalações sanitárias inadequadas. O Dr. Randall Todd, diretor de epidemiologia e preparação para a saúde pública no Distrito de Saúde do Condado de Washoe, diz que todos os hospitais deveriam dobrar esforços preventivos, incluindo um histórico de viagem. “É importante que os prestadores de cuidados de saúde e os hospitais tenham em mente que o nosso mundo está encolhendo”, diz ele. “Quando alguém entra, é importante saber onde estiveram no mundo”.

Então, se CRE ou outras infecções resistentes são diagnosticadas, o hospital pode tomar precauções apropriadas, como isolar o paciente, e imediatamente iniciar testes de laboratório para tentar encontrar um antibiótico eficaz.

Mas neste caso, não havia nenhum antibiótico eficaz. “E nós vamos ver mais destes, de gota em gota, que vai virar um chuvisco constante e depois uma tempestade” prediz Johnson. “É assustador, mas é bom ficarmos com medo se isso motiva a ação”.

A ação necessária é usar sabiamente os antibióticos, tanto em pessoas quanto em animais, de modo que as cepas de bactérias não tenham chance de desenvolver resistência, diz o especialista. Além disso, continuar as pesquisas sobre o desenvolvimento de novos antibióticos. “Temos algumas novas drogas chegando, então há esperança”, diz ele. Mas, à medida que novos antibióticos se tornam disponíveis, “precisamos usá-los seletivamente”, aponta. [Science Alert, NPR]

por Jéssica Maes
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