Especialistas defendem a psicanálise para ajudar os idosos
Por Simone Muniz
Freud não acreditava que fosse viver tantos anos. Em 1905, afirmou que a psicanálise era um bom método para os jovens e adultos mas não servia para ajudar os idosos a solucionar seus conflitos internos. Muitos psicanalistas encontraram na afirmação de Freud a justificativa que precisavam para evitar ouvir dos pacientes mais velhos relatos sobre as angústias da velhice e, dessa forma, ter que encarar o próprio medo do envelhecimento e da morte, como afirmou Cristina Amendoeira, integrante da Sociedade Brasileira de Psicanálise. Hoje, o preconceito está sendo combatido nas academias e congressos de psicanálise e a afirmação de Freud sobre os idosos ganha nova interpretação.
"Na época em que fez essa observação, Freud buscava divulgar a ciência que ele estava criando. Ele dizia que, na psicanálise com o velho, havia tanto material para colher que não daria tempo de analisar", diz a psicanalista Berenice Ribeiro, organizadora de quatro Jornadas de Psicanálise com Idosos, na Academia Brasileira de Letras.
Hoje sabe-se que o tempo e a quantidade de histórias vividas não atrapalham a elaboração das idéias no divã. "O que interessa são as questões enfatizadas e a maneira como as histórias são contadas", diz Cristina Amendoeira.
Existem pessoas, novas ou velhas, que se concentram muito nas perdas e não conseguem seguir adiante. Outras ignoram as perdas, assim como os ganhos, e têm dificuldades de dar sentido à própria vida. "A maneira como se estrutura o subjetivo varia de acordo com o indivíduo, e não com a idade", explica Berenice Ribeiro. É a partir do que é dito nas sessões terapêuticas que o analista ajuda o paciente a olhar de outra maneira para seus próprios conflitos, a elaborar novas perguntas e novos desafios para o futuro.
Achar que os idosos são menos flexíveis do que os mais jovens, isola e deixa os mais velhos, aos olhos de quem assim pensa, menos humanos. "Quem encara a velhice dessa forma fica com medo de envelhecer e sofre mais", completa Berenice. "Para quem deseja ter uma vida longa, é preciso aceitar a presença de afeto e de conflitos, de erotismo e da sexualidade no idoso", completa Amendoeira.
Segundo elas e outros psicanalistas, o método de Freud ajuda, sim, aos idosos em conflitos emocionais a elaborarem novos valores e sentidos para usufruir com alegria os próximos anos de suas vidas.
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