05 de dezembro de 2009
SAÚDE
Zero Hora
Lesões que provocam perda de movimentos exigem que toda a família se readapte
Ao mostrar o drama da personagem Luciana, interpretada por Alinne Moraes, que ficou tetraplégica após um acidente e agora luta para recuperar os movimentos dos braços e das pernas, Viver a Vida, novela das oito da TV Globo, retrata a difícil e lenta recuperação de quem sofre uma lesão na medula. É preciso começar de novo, aprendendo a conviver com limitações físicas antes inexistentes.
Até ser vítima de um disparo de arma de fogo há seis anos, Luís Felipe Ströher, 21 anos, de Santa Maria, nadava seis dias por semana, jogava na zaga da turma do colégio e arriscava arremessos de três pontos em partidas de basquete. Após a bala ter atingido a sétima vértebra da coluna cervical, o adolescente deixou essa rotina para trás. Perdeu parte do movimento dos braços e todos a mobilidade das pernas. Sequer conseguia ficar sentado.
– Eu estava sempre me movimentando antes. De repente, fiquei preso à cama – lembra o estudante de Sistemas de Informação.
Assolado pela depressão, o universitário de mais de 1m80cm, sem vontade de comer, chegou a pesar 44 quilos. Para reverter o quadro de desnutrição, os médicos optaram pela alimentação por meio de uma sonda no nariz.
– Ele saía com a gente, não se importava com a sonda, mas também não reagia – conta a mãe, a pediatra Deili Granvile Silva, 48 anos.
Na véspera de uma cirurgia para trocar o equipamento por outro permanente, ligado ao estômago, o adolescente voltou a sentir fome de comida. E de vida também. À mãe, confidenciou o sonho de ter seu próprio carro. Traçado o objetivo, dedicou-se à fisioterapia e à musculação para fortalecer os membros superiores.
O neurocirurgião Eliseu Paglioli destaca que a recuperação estrutural da área lesionada da medula independe do esforço do paciente:
– O trabalho dele é melhorar a utilização da capacidade motora que restou.
Responsável por ligar o cérebro ao resto do corpo, permitindo a sensibilidade, os movimentos e o funcionamento de órgãos, a medula, quando lesionada, tem de se recuperar sozinha.
– As limitações dependem da altura da lesão na medula e da extensão. Se for completa, a pessoa perde o movimento e a sensibilidade daquela região para baixo. Se for parcial, pode ficar com parte dos movimentos e ter alguma sensibilidade. Quase sempre há dificuldade de controle esfincteriano (urinário e fecal) – explica.
Enquanto a carteira de habilitação continuava distante, devido à idade, Luís Felipe reaprendeu a escrever. Destro antes da lesão, passou a rascunhar com a esquerda e, depois, com as duas mãos. Terminou o Ensino Médio e passou no vestibular. Sobre a vida sentimental, ele diz estar em um bom momento, sem compromissos. Questionado sobre a vida sexual, é direto:
– Funciona, sim.
O sonho de dirigir foi realizado há um ano e meio.
– Saio à noite de segunda a segunda, depois da faculdade. Só preciso de alguém para tirar a cadeira de rodas do porta-malas.
Nova rotina bem vista pela mãe:
– Ele não desgruda do carro, é como se fossem suas pernas. É difícil vê-lo parado agora.
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