01/12 - 11:33 - Chris Bertelli, iG São Paulo
“O maior inimigo dos portadores de HIV não é o vírus, mas sim o preconceito, a discriminação e a solidão”. A avaliação de J. R. P., 41 anos, paulista e soropositivo há 20 anos, confirma o resultado da pesquisa “Percepção da qualidade de vida e do desempenho do sistema de saúde entre pacientes em terapia antirretroviral no Brasil”, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz, do Rio de Janeiro.
Segundo o estudo, 65% dos 1260 entrevistados avaliaram seu estado de saúde como bom ou ótimo. O índice é superior ao da população geral, que fica em 53%. Em todo o país, 200 mil fazem o tratamento, de acordo com o Ministério da Saúde.
No entanto, a boa percepção do estado de saúde contrasta com problemas sociais e psicológicos enfrentados pelos portadores do vírus. “As pessoas hoje sabem o que é a doença, mas a convivência com os doentes ainda não é tranqüila. Em termos médicos, se avançou muito, mas no que concerne à discriminação pouco se avançou” afirma J. R. P..
Perdas sociais
A pesquisa identificou quais os maiores problemas enfrentados pelos portadores do vírus, e quatro das cinco respostas mais frequentes estão relacionadas a questões sociais. Apenas uma está relacionada com a evolução da doença. Trinta e seis vírgula cinco por cento responderam que a piora nas condições financeiras foi sua maior perda. Em seguida, está a piora na aparência física (33,7%) – a única realmente ligada à evolução da aids - , a discriminação social (20,9%), a perda do emprego e a falta de suporte familiar (16,2%). “O soropositivo ainda enfrenta dificuldades para ser aceito nas empresas. A Previdência Social diz que a pessoa está apta a trabalhar, mas as empresas exigem exame de HIV durante o processo seletivo. Sua renda cai, ele se sente discriminado e muitas vezes não encontra suporte na família”, relata J. R. P.. Mais de 20% dos entrevistados perderam o emprego após o diagnóstico.
E a discriminação não pára por aí. “Quando eu fazia faculdade, umas pessoas descobriram que eu era HIV positivo e sofri preconceito. Sou professor de ética e filosofia do ensino médio, mas nem meus alunos e nem mesmo os professores da escola sabem que eu tenho o vírus. Tudo isso gera depressão, baixa auto-estima e contribui para a evolução da doença”.
Ganhos
A autoavaliação acima da média sobre o estado de saúde está diretamente ligada a um maior e mais fácil acesso a hospitais e remédios. Além disso, fatores sociais como escolaridade e renda também impactam positivamente. Quanto mais altas forem essas duas, mais alta é a avaliação.
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