terça-feira, 17 de novembro de 2009

Hipertensão ronda a terceira idade


Pesquisa // Ipespe constatou que entre 300 idosos consultados 46% têm a doença seguida de diabetes
Marta Telles com colaboração de Juliana Colares
martatelles.pe@dabr.com.br

Na varanda da casa número 39, na Rua Loanda, no bairro de Vasco da Gama, Recife, os dias de Leonora Fermiliana da Silva passam lentamente. Aos 65 anos e cega desde os 25, Maroca, como é carinhosamente chamada pelos mais íntimos, divide o tempo entre os afazeres de casa, o aparelho de som, a cadeira de balanço na varanda e o quintal amplo, sombreado por uma bela mangueira.

Aos 65 anos e cega desde os 25, Leonora da Silva, moradora de Vasco da Gama, na Zona Norte do Recife, segue uma dieta rígida por causa da doença. Foto: Ricardo Fernandes/DP/D.A Press
Ontem, quando a reportagem do Diario chegou, Maroca havia acabado de fazer café. Fez para os outros. Leonora, foi proibida pelos médicos de degustar a bebida. Uma entre inúmeras restrições alimentares da idosa. Açúcar, sal, carne de porco, laranja (exceto mimo), farinha, refrigerante, crustáceos. A lista riscada do cardápio é grande. Parte dela, por causa do diabetes. Parte, por causa da hipertensão. O restante, nem ela sabe. Assim como Leonora, 46% dos 300 idosos ouvidos numa pesquisa de opinião pública realizada na Região Metropolitana do Recife têm algum tipo de restrição alimentar. A maioria aponta problemas de hipertensão e diabetes como causas.

O estudo foi realizado pelo Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe) e encomendado pela ONG Instituto de Estudos e Pesquisas da Terceira Idade (Ipeti). A intenção foi saber o perfil da população com mais de 60 anos, pertencentes às classes econômicas B e C do RMR. Problemas gástricos, colesterol alto, alergia, doenças renais e cardiológicos, labirintite, obesidade e até a estética foram citados pelos idosos como motivos que fazem eles deixarem de comer alimentos que antes faziam parte da dieta. Em compensação, a alimentação deles é balanceada e se assemelha muito ao padrão alimentar típico do brasileiro: arroz, feijão, carne e salada ou legumes. No jantar, quase o mesmo menu da manhã - pão, café, frutas, queijo e café com leite. A diferença é que a sopa assume papel de destaque à noite.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG-PE), Alexandre Mattos, a alimentação é um fator importante quando o assuntoé terceira idade. Segundo ele, o idoso tem uma cultura de dieta mais saudável que os mais jovens e que poucos compram comida pronta ou recorre aos fast food. Informação confirmada na pesquisa. Do total, só 15% compraram refeições prontas nos últimos dois meses. E apenas 34% fizeram refeições fora de casa no mesmo período. Fato que para a coordenadora da pesquisa e diretora-executiva do Ipespe, Marcela Montenegro, também é consequência do fator econômico. Da classe C, só 21% comeram em restaurantes e bares nos últimos dois meses. Na classe B, esse número sobe para 56%.

Independentemente da classe social, Alexandre Mattos reforça que as dietas para o público da terceira idade deve ser restrita apenas por questões médicas. Os idosos que já ultrapassaram dos 70 têm tendência a perder peso. "Esses idosos bem fraquinhos, magrinhos, restrigem a alimentação, o que pode levar à morte. Para esses, a preocupação maior é que ele não perca peso", enfatizou Mattos, que reforça a importância de uma dieta variada. Na mesa de Maria José da Conceição, 77 anos, feijão, arroz e carne tem lugar garantido. Ela só não gosta de salada e reclama quando trocam a carne por frango ou peixe. Mas evita o sal e trocou o açúcar por adoçante.

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