Segundo pesquisa publicada na Nature Neuroscience, as modificações ajudam nos cuidados com os bebês e podem persistir por até dois anos
Gravidez
Em mulheres que acabaram de ter filhos o volume da massa cinzenta é alterado em regiões do cérebro ligadas à percepção de sentimentos e necessidades dos outros, segundo os pesquisadores (Istock/Getty Images)
A gravidez altera a estrutura cerebral das mães, causando modificações que podem favorecer a habilidade para cuidar dos bebês, sugere um estudo publicado nesta segunda-feira na revista científica Nature Neuroscience. Segundo os pesquisadores, o volume da massa cinzenta é alterado em regiões do cérebro ligadas à percepção de sentimentos e necessidades dos outros em mulheres que acabaram de ter filhos. De acordo com os cientistas, essa é uma das primeiras evidências de que as alterações no cérebro materno podem ajudar nos cuidados com as crianças.
“Os resultados apontam que a plasticidade cerebral da gravidez tem o propósito evolutivo de fazer com que as mães se ocupem das necessidades de seus filhos”, afirmou Erika Barba-Müller, pesquisadora da Universidade Autônoma de Barcelona (UAB), na Espanha, e uma das autoras do estudo, em comunicado.
Alterações cerebrais
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram o cérebro de 25 mulheres que tiveram filhos pela primeira vez, por meio de imagens de ressonância magnética, antes e depois da gravidez. Comparando as imagens com as do cérebro de dezessete homens e vinte mulheres sem filhos, os cientistas perceberam que as mulheres que tinham acabado de ter filhos exibiam a massa cinzenta reduzida em regiões associadas à capacidade de perceber emoções e pontos de vista alheios. Segundo os pesquisadores, essa diminuição tem o propósito de tornar as ligações cerebrais mais eficazes e favorecer as relações afetivas entre as mães e as crianças.
“Acreditamos que a redução se deve a um processo similar à ‘poda sináptica’ que acontece durante a adolescência, quando as sinapses [conexões cerebrais que transmitem dados de um neurônio a outro] mais fracas são eliminadas para favorecer um processamento mental mais maduro e eficiente”, explica Susanna Carmona, pesquisadora da UAB, e uma das autoras do estudo.
O estudo revela ainda que as alterações cerebrais podem perdurar por até dois anos, sugerindo que as transformações podem preparar as mães para as necessidades sociais que a maternidade exige.
Especialistas
Para Kirstie Whitaker, especialista em neuroimagem da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, apesar da quantidade pequena de mulheres analisadas, o estudo é convincente. “A mãe de primeira viagem tem que se esforçar ao máximo para entender e suprir as novas necessidades do seu bebê. Um novo ser que ela ainda está conhecendo os hábitos. O que pode incluir adaptação cerebral ligada as pressões evolutivas do ambiente”, afirmou a cientista, que não está envolvida na pesquisa, em entrevista ao jornal The Guardian.
Segundo Paul Thompson, neurocientista da Universidade do Sul da Califórnia (USC, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, afirmou que há três possibilidades para a alteração da massa cinzenta analisada nesta nova pesquisa. “A primeira probabilidade é que a alteração cerebral não é benéfica e no futuro isso poderia trazer consequências negativas para a mãe. A segunda [possibilidade] seria um reflexo dos novos hábitos da mãe, como as poucas horas dormidas, o estresse e a alteração na alimentação. Já terceira, seria uma adaptação do próprio corpo para a mãe conseguir lidar com futuro materno. O cérebro estaria buscando ser mais eficiente em habilidades maternas de nutrir o novo ser e ser vigilante ao máximo para sempre ensinar o bebê”, disse ele, que também não participou da pesquisa, em entrevista ao The New York Times.
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