Esta é a primeira candidata bem-sucedida a vacina de zika feita com vírus vivo atenuado. Pesquisa é resultado de parceria entre instituições americanas e Instituto Evandro Chagas.
Ilustração mostra a estrutura do vírus da zika (Foto: Kateryna Kon / Science Photo Libra / KKO / Science Photo Library)
Uma candidata a vacina de zika feita com vírus vivo atenuado foi eficaz em proteger camundongos contra a infecção associada recentemente ao nascimento de bebês com microcefalia. Os resultados, publicados na revista especializada “Nature Medicine” nesta segunda-feira (10), indicam que a vacina é promissora e testes em humanos podem começar ainda este ano.
O produto foi desenvolvido em uma parceria que envolve o Instituto Evandro Chagas do Pará, órgão ligado ao Ministério da Saúde, a Universidade do Texas e os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH).
Na vacina de vírus vivo atenuado, altera-se o vírus sem matá-lo para que ele continue sendo capaz de gerar uma resposta do sistema imunológico, porém sem levar à doença. É o que ocorre na vacina de febre amarela, por exemplo. No caso desta candidata a vacina de zika, os pesquisadores retiraram parte do material genético do vírus, uma região que não codifica proteínas, mas é muito importante para a replicação do vírus.
“Subtraímos 10 nucleotídeos dessa região, o que foi suficiente para atenuar o vírus. O candidato vacinal ficou com 10 nucleotídeos a menos do que o vírus selvagem”, explica o médico virologista Pedro Fernando da Costa Vasconcelos, diretor do Instituto Evandro Chagas.
Como foram os testes?
Os camundongos testados no estudo eram deficientes em uma proteína chamada interferon, que atua na proteção do organismo contra infecções virais. Eles eram, portanto, especialmente suscetíveis à infecção do vírus da zika.
Em um dos testes realizados, os animais foram divididos em dois grupos: um dos grupos recebeu o vírus selvagem da zika e o outro recebeu o vírus vivo atenuado que constitui o candidato vacinal. Os animais do primeiro grupo apresentaram alta carga viral e cerca de metade morreu. Já no segundo grupo nenhum animal morreu.
Depois de 30 dias, os animais vacinados foram expostos ao vírus selvagem e não apresentaram viremia, ou seja, a presença do vírus no sangue. Isso indica que a vacina cumpriu sua missão de imunizar os animais.
Os testes também demonstraram que mosquitos Aedes aegypti que se alimentaram de sangue infectado com o vírus vivo atenuado da vacina não desenvolveram a infecção e mesmo a inoculação direta do vírus vacinal no mosquito não foi capaz de infectá-lo.
Vantagens e desvantagens
Já existem outras candidatas a vacina de zika em fases mais avançadas de pesquisa, como a vacina de DNA do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas (NIAID), parte do NIH, que está na segunda fase de testes em humanos.
Porém, segundo Vasconcelos, a vantagem da vacina de vírus vivo atenuado é o fato de ela ser eficaz com apenas uma dose, enquanto outras necessitam de até três doses para completarem a imunização. “Vacinas que têm mais de uma dose são difíceis por causa da falta de adesão. É o que ocorre com a vacinação contra HPV em adolescentes, por exemplo. Por isso neste caso se optou pelo vírus vivo atenuado”, diz o diretor.
A desvantagem da vacina é que ela não poderá ser usada em gestantes. O púbico-alvo deve incluir mulheres em idade fértil e crianças entre 8 e 10 anos, segundo Vasconcelos
Próximos passos
Atualmente, a vacina está sendo testada em macacos e os experimentos devem ser concluídos até o início de maio. Os testes estão sendo feitos simultaneamente no Instituto Evandro Chagas, no Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro e em um laboratório do NIH, nos Estados Unidos. "A gente espera que os resultados sejam similares aos observados em camundongos", diz Vasconcelos.
Os macacos estão recebendo tanto a vacina feita com o vírus que teve os 10 nucleotídeos removidos de seu material genético quanto um segundo candidato vacinal que, além de ter os 10 nucleotídeos removidos, ainda tem uma mutação em uma proteína chamada NS1, importante para a patogenia do vírus.
Por Mariana Lenharo, G1
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