Cientistas criam tecido elástico que promete evitar a gravidez e ao mesmo tempo promover prevenção contra doenças sexualmente transmissíveis. Material ainda está em fase de pesquisa.
Cientistas da Universidade de Washington, em Seattle, produziram um tecido elástico feito de fibras microscópicas, de poros tão minúsculos que conseguem deter espermatozoides. O tecido também pode ser produzido de forma a se dissolver de forma gradual no corpo, relatam os pesquisadores na revista científica PloS One. Enquanto se dissolve, o material pode liberar medicamentos, como antivirais usados para prevenir a infecção pelo HIV, ou espermicidas, que matam espermatozoides.
“Imaginamos materiais que desapareçam lentamente ao longo de dois dias”, declarou Cameron Boll, cientista da Universidade de Washington, em entrevista à Deutsche Welle. “Durante este período, eles poderiam seguir liberando as drogas, mas sem deixar de atuar como uma barreira física”. Os espermatozoides seriam mortos pelas substâncias liberadas, antes que a rede finalmente se dissolvesse.
Segundo os pesquisadores, o tecido é capaz de assumir várias formas, como folhas chatas, tubos ocos ou superfícies curvas. “Uma mulher poderia, por exemplo, com o dedo, dobrar pela metade um pequeno quadrado, de cerca de cinco por cinco centímetros de tamanho, e inseri-lo na vagina.” O nanomaterial tem capacidade de aderência. Ao se dissolver, torna-se uma espécie de gel. O tecido não é visível por fora, ressalta o pesquisador. “Ou seja, as mulheres também poderiam usá-lo sem o consentimento do parceiro.”
“Nosso sonho era criar um produto que protegesse as mulheres, ao mesmo tempo, contra o HIV e a gravidez indesejada”, explica Kim Woodrow, chefe da equipe que realizou o estudo. Esta é a primeira vez que nanofibras são consideradas para uso num método contraceptivo.
“Uma abordagem inovadora e fascinante”, aponta Michael Ludwig, especialista em ginecologia e obstetrícia da clínica Amedes, de Hamburgo. “Mas primeiro temos que esperar para ver até que ponto esse método é confiável e viável para o uso cotidiano”.
A fundação privada de Bill e Melinda Gates aposta na ideia, pois já assegurou ao projeto quase 1 milhão de dólares para a continuação das pesquisas. “Há, de fato, grande necessidade de se criar um novo método de contracepção que evite a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis”, diz Ludwig. O único disponível até agora é o preservativo.
A pílula anticoncepcional é muito segura na prevenção da gravidez, mas não oferece proteção contra enfermidades, o que é um grande problema, na opinião do ginecologista. “Não estamos falando apenas da aids. Muitas outras doenças venéreas se transmitem com até mais facilidade, como a hepatite, por exemplo.”
Uma sondagem realizada na Alemanha, em 2011, pelo Centro Federal de Educação para a Saúde (BZgA, na sigla em alemão), mostrou que mais da metade de todos os alemães entre 18 e 49 anos escolhe a pílula como contraceptivo, sendo que somente um terço deles prefere o preservativo. Por isso, o sucesso do novo produto depende sobretudo de ele chegar ao mercado no momento certo, diz Ludwig. “Atualmente, não temos uma ideia definitiva da aparência do produto final”, diz o pesquisador norte-americano Cameron Ball.
Por Raphael
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