Em estudo publicado na Nature, cientistas da Fundação Oswaldo Cruz encontraram vírus zika na saliva dos pernilongos, o que aumentaria risco de transmissão
Os mosquitos do gênero Culex, conhecido popularmente como pernilongo ou muriçoca, foram colhidos em Pernambuco já infectados (iStockphoto/Getty Images)
Em um novo estudo, publicado nesta quarta-feira na revista científica Emerging Microbes & Infections, do grupo Nature, cientistas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) revelaram que o pernilongo comum pode ser um dos transmissores do vírus zika. De acordo com a instituição, os testes feitos em mosquitos infectados, colhidos em Recife, indicam que eles podem, sim, ser vetores do vírus.
Os mosquitos do gênero Culex, conhecidos popularmente como pernilongo ou muriçoca, foram colhidos em Pernambuco já infectados. A partir do sequenciamento do genoma do zika, presente no organismo desses insetos, os pesquisadores do Departamento de Entomologia da Fiocruz perceberam que o vírus é capaz de alcançar a glândula salivar dos mosquitos – o que indicaria a probabilidade de infecção com a picada.
Segundo os pesquisadores, se a espécie não fosse um vetor do vírus, em determinado momento seu desenvolvimento seria bloqueado pelo organismo do mosquito. No entanto, a partir de testes em laboratório e microscopia eletrônica, a equipe de pesquisa comprovou que o vírus zika consegue se replicar nos pernilongos e que a saliva expelida pelos mosquitos coletados continha as partículas virais.
Aedes: principal transmissor
De acordo com Artur Timerman, presidente da Sociedade Brasileira de Dengue e Arboviroses, faz um tempo que existe essa hipótese sobre a importância do pernilongo na transmissão do vírus. Segundo os dados de notificação e de diagnóstico, os casos de zika têm uma correlação estreita à presença do Aedes aegypti, enquanto o mosquito comum nunca foi considerado um vetor relevante de arboviroses, as doenças transmitidas por insetos.
Para Timerman, o Aedes aegypti – que transmite também a dengue e a chikungunya – continua sendo o principal vetor. “O pernilongo tem um comportamento totalmente diferente do Aedes e é muito menos relevante, quando se diz respeito a arboviroses. É preciso tomar as mesmas precauções de sempre de saneamento e combate dos focos de criação.”
Mapeamento do vírus
O sequenciamento do genoma é uma espécie de mapeamento dos genes no DNA do vírus. Em 2016, em parceria com pesquisadores britânicos, o Departamento de Virologia e Terapia Experimental da Fiocruz havia sequenciado o genoma do vírus em amostra humana. Agora, pela primeira vez, esse sequenciamento foi feito a partir do pernilongo.
O próximo passo, segundo a instituição, é analisar o conjunto de características fisiológicas e comportamentais do Culex, em ambiente natural, para entender o papel e a importância da espécie na transmissão do vírus zika.
Por Marina Felix
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