“Ela reduziu o vírus e impediu o avanço da moléstia”, diz cientista.
Isis Nóbile Diniz Do G1, em São Paulo
O princípio de uma vacina é simples. Geralmente, insere-se na pessoa uma parte inofensiva do vírus. O corpo trabalha para combater esse estranho e, conseqüentemente, cria uma defesa. No caso da Aids, os cientistas “grudam” uma parte do culpado pela doença no vírus da gripe. Mas, se muita gente já “pegou” essa gripe, o combate é ineficaz. Qual a solução encontrada pelo pesquisador Dan Barouch e sua equipe do Centro Médico Beth Israel Deaconess (BIDMC)? Usar duas doses da criação. A primeira com um vírus incomum da gripe e outra com um corriqueiro para reforçar a proteção. O trabalho foi publicado na versão on-line da revista Nature.
Nesse novo estudo da instituição afiliada à Escola Médica de Harvard, Barouch usou os tipos 26 e 5 do adenovírus -- vírus da gripe. Respectivamente, raramente encontrado na população humana e com a capacidade de induzir uma forte resposta imunológica nas pessoas. O pesquisador inseriu no adenovírus atenuado ou inofensivo uma parte do vírus da imunodeficiência símia (SIV, sigla em inglês) para combater a Aids em macaco-rhesus. O resultado dessa união chama-se vetor.
O SIV foi escolhido pela semelhança com o HIV. Após o vetor ser introduzido no animal, a proteína do SIV transferida para dentro das células estimulou uma resposta imunológica. Com a administração da segunda dose a resposta imune pode ser reforçada. Assim, os resultados mostraram que os animais vacinados foram capazes de reduzir a replicação viral e se manter saudáveis por mais de 500 dias após a infecção, mesmo quando desafiados por uma dose letal de SIV.
“Embora nossa vacina não impeça a aquisição da infecção pelo SIV, reduz substancialmente os níveis de vírus no sangue dos animais e impede o desenvolvimento da Aids”, diz o autor do trabalho. Isso porque a técnica induz o sistema de defesa a criar as células-T. Elas não invadem o vírus como, normalmente, os anticorpos fazem. Mas destroem qualquer célula infectada pelo SIV.
“Mas o SIV é diferente do HIV. Além disso, o adenovírus tipo 5 é comum na população, podendo deixar as pessoas mais suscetíveis à doença”, explica Esper Kallás, médico infectologista e pesquisador. Mesmo que nunca possa ser usada em humanos e “apesar do decepcionante contragolpe da vacina contra o HIV no ano passado, nossos estudos sugerem que não estamos no fim da estrada quando se trata de células-T”, acredita Barouch.
Prós e contras
Existem duas dificuldades que os cientistas enfrentam na criação de uma vacina contra a Aids: o vírus responsável pela doença sofre mutações e parasita as células de defesa. “A única forma de extinguir ou controlar de forma eficaz a Aids seria com uma vacina, porém acredito que uma sem contra-indicações demorará no mínimo dez anos para ser produzida”, diz David Salomão Levy, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
No ano passado, a empresa Merck testou em humanos uma vacina contra a Aids feita com o adenovírus tipo 5. Como ele é freqüentemente encontrado no meio ambiente, muitas pessoas tinham imunidade pré-existente. O resultado foi uma vacinação ineficaz que até aumentou o risco com relação à doença.
Estima-se que 33,2 milhões de pessoas vivem atualmente com o vírus. “Uma vacina seria a melhor solução para todos, inclusive aos países africanos. O tratamento mais barato da Aids custa 250 dólares por ano. Por outro lado, a vacina mais cara no mercado, contra o HPV, sai por 350 reais a dose”, afirma Kallás. “Temos um longo caminho a percorrer”, reflete.
Isis Nóbile Diniz Do G1, em São Paulo
O princípio de uma vacina é simples. Geralmente, insere-se na pessoa uma parte inofensiva do vírus. O corpo trabalha para combater esse estranho e, conseqüentemente, cria uma defesa. No caso da Aids, os cientistas “grudam” uma parte do culpado pela doença no vírus da gripe. Mas, se muita gente já “pegou” essa gripe, o combate é ineficaz. Qual a solução encontrada pelo pesquisador Dan Barouch e sua equipe do Centro Médico Beth Israel Deaconess (BIDMC)? Usar duas doses da criação. A primeira com um vírus incomum da gripe e outra com um corriqueiro para reforçar a proteção. O trabalho foi publicado na versão on-line da revista Nature.
Nesse novo estudo da instituição afiliada à Escola Médica de Harvard, Barouch usou os tipos 26 e 5 do adenovírus -- vírus da gripe. Respectivamente, raramente encontrado na população humana e com a capacidade de induzir uma forte resposta imunológica nas pessoas. O pesquisador inseriu no adenovírus atenuado ou inofensivo uma parte do vírus da imunodeficiência símia (SIV, sigla em inglês) para combater a Aids em macaco-rhesus. O resultado dessa união chama-se vetor.
O SIV foi escolhido pela semelhança com o HIV. Após o vetor ser introduzido no animal, a proteína do SIV transferida para dentro das células estimulou uma resposta imunológica. Com a administração da segunda dose a resposta imune pode ser reforçada. Assim, os resultados mostraram que os animais vacinados foram capazes de reduzir a replicação viral e se manter saudáveis por mais de 500 dias após a infecção, mesmo quando desafiados por uma dose letal de SIV.
“Embora nossa vacina não impeça a aquisição da infecção pelo SIV, reduz substancialmente os níveis de vírus no sangue dos animais e impede o desenvolvimento da Aids”, diz o autor do trabalho. Isso porque a técnica induz o sistema de defesa a criar as células-T. Elas não invadem o vírus como, normalmente, os anticorpos fazem. Mas destroem qualquer célula infectada pelo SIV.
“Mas o SIV é diferente do HIV. Além disso, o adenovírus tipo 5 é comum na população, podendo deixar as pessoas mais suscetíveis à doença”, explica Esper Kallás, médico infectologista e pesquisador. Mesmo que nunca possa ser usada em humanos e “apesar do decepcionante contragolpe da vacina contra o HIV no ano passado, nossos estudos sugerem que não estamos no fim da estrada quando se trata de células-T”, acredita Barouch.
Prós e contras
Existem duas dificuldades que os cientistas enfrentam na criação de uma vacina contra a Aids: o vírus responsável pela doença sofre mutações e parasita as células de defesa. “A única forma de extinguir ou controlar de forma eficaz a Aids seria com uma vacina, porém acredito que uma sem contra-indicações demorará no mínimo dez anos para ser produzida”, diz David Salomão Levy, infectologista do Hospital Israelita Albert Einstein.
No ano passado, a empresa Merck testou em humanos uma vacina contra a Aids feita com o adenovírus tipo 5. Como ele é freqüentemente encontrado no meio ambiente, muitas pessoas tinham imunidade pré-existente. O resultado foi uma vacinação ineficaz que até aumentou o risco com relação à doença.
Estima-se que 33,2 milhões de pessoas vivem atualmente com o vírus. “Uma vacina seria a melhor solução para todos, inclusive aos países africanos. O tratamento mais barato da Aids custa 250 dólares por ano. Por outro lado, a vacina mais cara no mercado, contra o HPV, sai por 350 reais a dose”, afirma Kallás. “Temos um longo caminho a percorrer”, reflete.
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