por Paula Desgualdo
design Darlene Cossentino
fotos Alex Silva
Fonte:Revista Saúde mai/09design Darlene Cossentino
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Há quem diga que a quercetina é a mais promissora substância para a prevenção e o tratamento de uma lista de doenças. E o melhor: dá para tirar proveito dela comendo maçã, cebola ou brócolis. Conheça aqui os seus poderes
Na natureza, essa molécula protege as plantas contra os danosos raios ultravioleta e ainda despacha vírus e bactérias para bem longe. No nosso corpo — surpresa! —, ela faz isso e muito mais. Mas durante anos a quercetina teve sua popularidade apagada por outras substâncias. Permaneceu, por exemplo, à sombra do festejado resveratrol, o antioxidante que dá prestígio ao vinho tinto. Na verdade, ela é tão ou mais eficaz do que seu primo na tarefa de defender as células contra o desgaste do dia a dia. “O vinho tinto, aliás, carrega mais quercetina do que resveratrol”, revela Selma Sanches Dovichi, professora de nutrição da Universidade Federal do Triângulo Mineiro, no interior de Minas. Só que, segundo a especialista, o resveratrol é mais fácil de quantificar. Por esse motivo, teria ganhado lugar de destaque entre os supernutrientes.
A tímida divulgação da quercetina, no entanto, não fez com que ela deixasse de ser minuciosamente estudada. Ao contrário. “Não é de hoje que cientistas pesquisam suas propriedades”, conta Selma. Entre os experts, a mais conhecida característica é justamente sua potente atividade antioxidante, isto é, aquela capacidade de anular os radicais livres, moléculas que prejudicam as células. “Uma pequena dose da substância já apresenta um rendimento bastante elevado”, afirma a farmacêutica Rúbia Casagrande, professora da Universidade Estadual de Londrina, no interior do Paraná. Ela verificou essa particularidade em um experimento com camundongos: uma solução com 1% de quercetina aplicada na pele dos roedores foi capaz de barrar os malefícios dos raios solares.
“Outros estudos mostram que o efeito antioxidante é evidente não apenas na pele mas em todo o corpo”, acrescenta Rúbia. Para garantir essa proteção, basta investir em alimentos ricos no nutriente (veja nas próximas páginas quais são as principais fontes). Apesar de o organismo absorver pouquíssimo da quercetina que ingerimos, pequenas porções são suficientes para trazer benefícios — um sinal de que vale a pena investir nela.
Trabalhos apontam que esse composto do grupo dos flavonoides ainda ajuda a preservar o cérebro e o coração, além de manter o sistema imunológico a postos. Sem falar que blinda o organismo contra o câncer. “A quercetina tem um papel decisivo na prevenção de doenças, principalmente as neurodegenerativas”, observa a nutricionista Vanderlí Marchiori, da Associação Paulista de Nutrição. A seguir, você verá o que dizem novas descobertas sobre esse ingrediente e entenderá de vez por que ele merece espaço na dieta.
Diz um ditado americano que comer uma maçã por dia é a receita ideal para manter-se distante do consultório médico. Diversos estudos já provaram que não se trata apenas de uma crença popular. E adivinhe o que aparece aos montes na maçã? Ela mesmo, a quercetina. Esse polifenol pode evitar que o seu corpo fique à mercê de bactérias oportunistas, como a Staphylococcus aureus, que é a vilã de alguns problemas respiratórios. Foi o que revelou um trabalho realizado na Universidade Estadual Paulista, em Araraquara, no interior de São Paulo. “A quercetina reduziu em até 70% o crescimento desses micro-organismos em seres humanos”, relata a biomédica Mariana Santoro, a autora do estudo. “Isso porque ela diminui sua atividade tóxica sobre as células”, explica.
Os vírus que também se cuidem. Cientistas italianos acabam de usar um extrato do nutriente para aumentar a resposta imune de células infectadas por um desses tipinhos, o herpes. Alergias e inflamações aumentam a lista de problemas que essa substância é capaz de afastar. Nos últimos dois anos, comprovouse que quem sofre de asma e bronquite pode respirar mais aliviado com seu auxílio. E as vantagens não param por aí.
Para viver mais
Uma das funções da quercetina é aumentar a atividade de enzimas envolvidas na quebra de moléculas de gordura. Resultado: menos gordura circulando nas artérias. E artérias saudáveis são um escudo contra problemas cardiovasculares, como infartos e derrames. Por falar em cérebro, neurocientistas da Universidade de Kentucky, nos Estados Unidos, descobriram que esse polifenol freia os danos causados pelo acúmulo da proteína beta-amiloide, o que levaria a doenças como o Alzheimer. “Sem citar suas características anticarcinogênicas”, comenta o nutricionista Julio Beltrame Daleprene, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade de São Paulo. Em bom português, a quercetina protege o DNA e impede a mutação das células, o que a torna uma aliada contra tumores — só para ter uma ideia, o flavonoide se revelou mais eficiente que a vitamina C contra a formação de células cancerosas.
Tantos predicados tornam esse polifenol essencial para quem deseja viver mais e melhor. Sua contribuição para a longevidade já está na mira dos pesquisadores. Acredita-se que a quercetina produza benefícios parecidos com os da restrição calórica, que é tida como um dos principais segredos dos longevos.
Sem medidas
Talvez você esteja se perguntando: “Quanto devo ingerir para usufruir das qualidades da quercetina?” A má notícia é que ainda não existe uma dose precisa. “Estima-se que uma dieta equilibrada inclua de 25 a 50 miligramas”, diz Julio Daleprene. “Mas é difícil fazer um cálculo exato de flavonoides ingeridos, principalmente porque faltam tabelas com dados sobre sua distribuição nos alimentos”, pondera o nutricionista. Segundo o cientista de alimentos Yong Park, professor da Universidade Estadual de Campinas, no interior paulista, as condições climáticas e sazonais influem bastante na concentração dessas substâncias em frutas e vegetais. Daí a imprecisão nos cálculos.
Outro fator deixa os especialistas com o pé atrás quando o assunto é recomendação diária: em excesso, a quercetina se torna pró-oxidante. Daí, em vez de ajudar, bagunçaria o coreto do nosso organismo. “Como ela é muito potente, o limite entre a proteção e o malefício é tênue”, observa Rúbia Casagrande. Apesar de não sabermos o que chamar de excesso, estamos falando de uma quantidade grande — grande mesmo. “Seria necessário suplementar a substância na dieta ou tomar alguns sucos de cebola, que é rico em quercetina, todos os dias”, brinca a nutricionista Vanderlí Marchiori.
Por fim, um aviso importante: é na casca que se concentra a maior quantidade da bendita. O que faz sentido: afinal, é a casca que serve como uma espécie de escudo para os frutos. “Mas a quercetina também é encontrada na polpa”, avisa Selma Dovichi. Vale saber que esse polifenol não é muito afeito ao excesso de calor. Ou seja, para aproveitá-lo ao máximo, o melhor é consumir os alimentos frescos, sem cozinhar. E, você há de convir, perder um único miligrama seria uma pena.
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