Quando o ácaro encontra uma nova presa, ele se acasala na sua pele. A fêmea cava túneis na pele da vítima, onde deposita seus preciosos ovos. Depois de uns dez dias, eles eclodem e nascem novos parasitas. Sem tratamento, esse ciclo não acaba nunca, perpetuando o problema. Nossa pele desenvolve uma reação alérgica ao bichinho e isso causa a coceira característica. Além da coceira, que piora à noite, surgem bolinhas avermelhadas e cascas.
Como a sarna é muito contagiosa e como o ácaro sobrevive por horas ou dias também em roupas, sofás, cadeiras, toalhas, geralmente mais de um membro da família é atingido. É comum haver pessoas infectadas que ainda não manifestaram a coceira, mas estão incubando o ácaro. Os ovos ainda vão abrir. Por isso, costuma-se pedir para todas as pessoas que moram na mesma casa tratarem a sarna, mesmo que só uma delas esteja se coçando. Caso contrário, a doença vira um verdadeiro inferno. O sujeito trata e cura. Depois, sua irmã pega. Passa para a mãe. Elas se tratam. Mas o irmão, aquela primeira vítima, já está incubando de novo. E assim vai. Não preciso nem dizer que isso causa enorme transtorno para todos os envolvidos.
O tratamento é feito com escabicidas, inseticidas que não fazem mal à pele humana. Aplica-se por três dias o produto em toda a pele, exceto no couro cabeludo e face, e deixa-se agir por um tempo. E, depois de uma semana, o mesmo tratamento é repetido para matar os ácaros que nasceram dos ovos e que não foram atingidos na primeira etapa. As roupas do corpo, roupas de cama e de banho devem ser trocadas todos os dias em que o escabicida for aplicado. Elas têm que ser lavadas com água quente e passadas com ferro. Além dos escabicidas, existe também um medicamento oral, mas a eficácia é menor.
Percebeu a dificuldade? Imagine uma casa sem varal para tanta roupa. Como assim, lavar tudo, todos os dias? E se forem quatro crianças? Ou cinco? E se a avó mora junto? É isso aí. Todo mundo tem que fazer o tratamento, ou ele fracassará. Uma das minhas lembranças da época de residência médica é de sentir estar falando algo impossível para aquela mãe de cinco filhos que foi ao Hospital das Clínicas por conta da coceira do caçula. Acho que a expressão ‘arranjando sarna pra se coçar’ vem justamente dessa trabalheira toda que dá para se livrar do problema. Ter sarna é bem chato.
E o cachorro da família nessa história? Não, ele não precisa de tratamento. A sarna humana é diferente da sarna do cachorro. Existe um ácaro específico para cada um. A gente até pode pegar a sarna do cachorro, mas o ácaro logo morre na nossa pele e o problema acaba. Do mesmo modo, a nossa sarna não vinga no cachorro.
Por Lucia Mandel
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