BRASÍLIA - Quase metade das espécies de árvores da Amazônia podem ser extintas até 2100 se as emissões mundiais de dióxodo de carbono continuarem aumentando. A temperatura média global pode subir 4,5 graus e o impacto imediato será a falta de água que, já em 2050, pode afetar de 1,6 a 2,6 bilhões de pessoas. A estimativa assustadora foi anunciada ontem, em Brasília, pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês).
– O aquecimento global é inequívoco – afirmou Martin Parry, do IPCC. – Para o Brasil ainda há muita incerteza, mas já temos evidências científicas que não só o Nordeste, mas o Sul do país sofrerá com a falta de água.
Para evitar os piores impactos, o IPCC afirma ser necessário um acordo mundial para que todos os países reduzam 80% de emissões de gases até 2050. Eles levarão essa proposta para a reunião de Copenhagen, na Dinamarca, que ocorrerá em dezembro de 2009 para fechar um acordo climático que substituirá o Protocolo de Kioto.
Responsabilidade brasileira
De acordo com o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Carlos Nobre, o desmatamento na Amazônia é responsável por 55% das emissões brasileiras. O quadro torna-se ainda mais grave quando se constata que 70% desse desmatamento ocorre de maneira ilegal. Já a agricultura é responsável por 25% das emissões, sendo que a maioria é do gás metano do rebanho bovino brasileiro, o maior do mundo, com mais de 200 milhões de animais. O setor de energia é responsável por 17% das emissões.
Para Nobre, o Brasil deveria concentrar-se no combate ao desmatamento da Amazônia. O país ainda não tem tecnologia para diminuir a produção do metano.
– A condição do Brasil, de ser o quarto maior emissor, obriga-nos a assumir responsabilidades – acredita Nobre. – Mais de 50% do PIB brasileiro depende dos recursos naturais renováveis, mas o PIB brasileiro associado com o desmatamento é de apenas 1%.
O pesquisador defende que os países desenvolvidos recompensem financeiramente os países em desenvolvimento que reduzirem as emissões por desmatamento. Uma diminuição de 50% da devastação mundial custaria de US$ 17 bilhões a US$ 30 bilhões.
– O Brasil já tem 750 mil km² de área desmatada – afirmou Nobre. Um terço desta área está desocupada. Então deveria ser usada para atividades agrícolas. A redução do desmatamento não tem impacto na economia brasileira.
Crise mundial
Os especialistas do IPCC acreditam que ainda é cedo para saber as consequências que a crise financeira mundial trará para o meio ambiente. Mas as expectativas não são boas.
– As lideranças políticas terão outras prioridades – acredita Parry. – É verdade que em tempo de recessão sociedade e governo preocupam-se mais com o padrão de vida do que com qualidade de vida. Mas esse tema é muito importante e se não pensarem em um plano que seja sustentável em tempos de recessão, ele não será sustentável em momento algum.
O Plano Nacional sobre Mudança no Clima do Brasil deve ficar pronto até dezembro. Segundo o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, existe uma pressão das organizações ambientais para que sejam estabelecidas metas. O Itamaraty, no entanto, é resistente à idéia porque não acha justo que o Brasil estipule metas sem ter garantias de compensação tecnológica e financeira.
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