Carol Hungria
Especialistas brasileiros da área de pneumologia contestam os resultados de um estudo divulgado na quarta-feira (24) sobre possíveis perigos envolvidos no uso de inaladores por pacientes que desenvolveram doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC), geralmente causadas pelo uso prolongado do cigarro.
Especialistas brasileiros da área de pneumologia contestam os resultados de um estudo divulgado na quarta-feira (24) sobre possíveis perigos envolvidos no uso de inaladores por pacientes que desenvolveram doenças pulmonares obstrutivas crônicas (DPOC), geralmente causadas pelo uso prolongado do cigarro.
A análise afirma que a droga aumenta consideravelmente o risco de morte por problemas cardiovasculares ou cerebrais. Mas, para especialistas como Andréa Sette, pneumologista do Hospital São Luiz, o artigo é “insuficiente para chegar a essa conclusão.”
A polêmica começa com a forma como o levantamento foi conduzido. O estudo não é uma pesquisa de campo, mas sim uma análise em cima de 17 testes conduzidos por outros médicos, em um grupo de 14.783 pacientes.
“Em um dos testes destacados, por exemplo, alguns pacientes não estavam usando o remédio corretamente, e isso não é levado em consideração. Além disso, não foram realizadas as correções para pacientes que abandonaram prematuramente os estudos”, diz Ricardo Renzetti, gerente médico da área respiratória do Laboratório Boehringer Ingleheim, ao apontar as falhas da publicação.
José Eduardo Delfine Cançado, presidente da Sociedade Paulista e Pneumologia e Tisiologia, acrescenta outro problema em relação a análise: nos testes selecionados para montar o estudo, alguns pacientes tomavam drogas do mesmo grupo, mas que são completamente diferentes na forma de atuação no organismo.
“Parte usa o brometo de tiotropium e, outra parte, o brometo de ipratropio. Não é seguro pesquisar dois medicamentos diferentes e chegar a uma só conclusão sobre os danos que os inaladores podem causar”, alerta.
O método mais eficiente, nesse caso, seria estudar apenas uma droga por vez, já que cada uma atua de uma forma. Cançado complementa ainda que, por serem testes feitos em épocas distintas, não há uma unidade de tempo na pesquisa.
“Na amostragem entraram pacientes que tomam remédios há apenas dois meses, ao lado de quem já toma há mais de dois anos. Chegar a uma conclusão com esses dados é inviável”, diz.
A pneumologista Andréa Sette acrescenta ainda que o estudo não leva em conta o fato da população que usa este medicamento já ser extremamente doente. “A DPOC é uma doença que não tem cura. Ela se manifesta geralmente em indivíduos que fumaram por muitos anos, e já têm a saúde debilitada. Nesses casos, fica difícil ligar problemas como o infarto ou o acidente vascular cerebral (AVC) exclusivamente ao uso dos inaladores.”
A análise acaba de ser publicada no "Journal of the American Medical Association" (Jama), mas dentro de duas semanas já terá sua veracidade abalada. Uma pesquisa que envolve o medicamente Spiriva (brometo de tiotrópio) será apresentada em breve um congresso internacional, em Berlim.
O estudo envolveu quase 6 mil pacientes em 37 países, durante quatro anos, e foi acompanhado por um Comitê de Monitoramento de Segurança e de Dados independente. A conclusão é que o medicamento não aumenta o risco de infarto do miocárdio, AVC e morte.
Parte levantamento já foi publicada na Internet. Leia o resumo dele, em inglês, no site da universidade UZ Leuven.
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