Até agora, os únicos planetas de fora do Sistema Solar já fotografados não têm estrela ou orbitam anãs marrons
Carlos Orsi, do estadao.com.br
SÃO PAULO - Cientistas da Universidade de Toronto, no Canadá, anunciaram nesta segunda-feira, 15, a primeira fotografia já feita de um planeta girando em torno de uma estrela semelhante ao Sol. O mundo fotografado, no entanto, é bem diferente da Terra: trata-se de um "Júpiter quente", uma categoria de planetas com massa comparável à do maior mundo do Sistema Solar. No caso, o planeta tem oito vezes a massa de Júpiter e temperatura estimada em 1.500º C.
Essa temperatura e outras características do objeto convenceram os autores da descoberta que não estavam olhando para uma segunda estrela, e sim para um objeto jovem, de massa planetária e a uma distância da Terra basicamente idêntica à da estrela que ocupa a parte principal da imagem, cerca de 500 anos-luz.
Até agora, os únicos planetas de fora do Sistema Solar que já haviam sido fotografados eram corpos errantes, que não estão presos gravitacionalmente a nenhuma estrela, ou que orbitam uma categoria específica de estrela de pouco brilho, as anãs marrons. A maioria dos mais de 300 planetas já descobertos além do Sol foi encontrada por meio da influência gravitacional que os mundos exercem em suas estrelas.
De acordo com o principal autor do trabalho que descreve a descoberta, David Lafrenière, serão necessários dois anos de observação para confirmar que o objeto fotografado está realmente preso à gravidade da estrela, conhecida pelo código 1RXS J160929.1-210524 e que tem 85% da massa do Sol. O planeta foi fotografado a uma distância do astro 10 vezes superior à que separa a Netuno do Sol. Netuno é o mais distante dos oito planetas do Sistema Solar.
A presença de um planeta a essa distância da estrela representa, segundo os autores da descoberta, um desafio aos modelos científicos sobre a formação de planetas.
Segundo outro dos autores da descoberta, Marten van Kerkwijk, a equipe visou especificamente estrelas jovens. "Assim, qualquer objeto de massa planetária na vizinhança não teria tido tempo de esfriar e ainda estaria relativamente brilhante", explica. "Esse é um dos motivos que nos permitiu vê-lo". O artigo sobre o novo planeta foi submetido para publicação no Astrophysical Journal Letters e já está disponível da internet.
Van Kerkwijk diz que a mesma técnica poderia, em princípio, ser usada para detectar um jovem planeta Terra. "Já há pessoas pensando em usar esse truque", disse ele. "Com 5 milhões de anos, a Terra ainda estaria derretida e poderia ser tão quente quanto o planeta que descobrimos, dependendo de quanto tempo levou para se formar e se alguma coisa teria colidido com ela recentemente", explica, lembrando que as principais teorias sobre a formação da Lua envolvem um grande impacto com nosso planeta.
A maior dificuldade na caçada a uma possível jovem Terra com temperatura de 1.500º C, diz ele, é que um planeta assim teria cerca de um milésimo do brilho do recém-descoberto, pelo fato de que seria muito menor. "Por enquanto isso está além do que conseguimos detectar, mas telescópios como o James Webb, o sucessor do Hubble, e uma nova geração de telescópios baseados na Terra poderiam ser capazes". O planeta também teria de estar suficientemente distante da estrela para não ser ofuscado pelo brilho do astro.
A fotografia foi feita com o Telescópio Gemini Norte, montado no vulcão Mauna Kea, no Havaí.
O trabalho que levou à descoberta do novo planeta é parte de um levantamento de mais de 85 estrelas jovens, formadas a cerca de 5 milhões de anos - o Sol, em comparação, tem quase 5 bilhões.
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