quarta-feira, 20 de abril de 2011

Limpeza correta do órgão sexual previne câncer e amputação




Juliana Crem

O assunto é pouco abordado e é um problema de saúde pública: todos os anos, cerca de mil homens têm seus pênis amputados por causa do câncer, segundo dados do Sistema Único de Saúde (SUS). "O câncer de pênis é muito frequente nos países subdesenvolvidos. Falta de higiene, fimose e associação com o vírus HPV aumentam o risco de desenvolver a doença", contou Gustavo Guimarães, oncologista e diretor do núcleo de urologia do Hospital A.C. Camargo, de São Paulo (SP).


Ana Teresa Teles, psicóloga do Recife (PE), estudou casos de amputação peniana no Hospital de Câncer do Pernambuco e constatou que a doença não é muito abordada sequer na literatura. "Estava preparando um projeto e foi difícil encontrar fundamentação teórica para poder escrevê-lo", disse, "acho que a saúde masculina não é muito trabalhada. Não há tantas campanhas como para as mulheres. Isso mudou depois de 2009, quando a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) começou a divulgar sobre o câncer de próstata, por exemplo. Conheço homens que só souberam que estavam doentes porque foram o médico depois de a família ver a campanha e pressionar para procurarem um médico", contou.

Água e sabão
O pênis produz uma substância esbranquiçada e gordurosa, chamada esmegma, para limpar e lubrificar o órgão genital. Todavia, é preciso higienizar adequadamente o membro para remover o esmegma, evitando a proliferação de bactérias e infecções. Um dos fatores que mais atrapalha os homens na correta limpeza do pênis é a presença da fimose, quando o prepúcio não se descola totalmente da glande, prejudicando a higienização.

E essa higienização não requer grandes firulas. "Apenas água e sabão são suficientes", explicou Guimarães. Mas, muitos homens sequer sabem disso, pois como destacou a psicóloga, muitos pacientes, principalmente os que vivem no campo diziam "eu me lavo", mas não sabiam que é preciso remover o esmegma.

A média de idade dos homens que sofrem precisam amputar o membro por causa do câncer é entre 60 e 70 anos, sendo que a maioria vive no Norte e no Nordeste do Brasil e são de baixa renda. Todavia, os jovens não estão livres do mal: "temos pacientes de 30 a 40 anos aqui no hospital", disse Guimarães. "Encontrei pacientes que não eram tão velhos e também que viviam em áreas urbanas e bairros nobres", contou Ana Teresa.

O câncer de pênis
Considerada um mistério para a medicina, o câncer de pênis é bastante agressivo e não tem, necessariamente, uma ligação com DSTs, como o de colo de útero, causado pelo HPV. A amputação, parcial ou total, é um dos últimos recursos usados pelos médicos para salvar a vida do paciente. Dependendo do estágio da doença, até mesmo os membros inferiores acabam sendo amputados. Mas, Guimarães lembrou que o mal pode ser tratado sem a amputação quando descoberto no início. Para tanto, é necessário que o homem procure e converse com seu urologista, que é o profissional indicado para o diagnóstico, "toda vez que aparecer uma ferida, principalmente indolor, e se o homem tem fimose, então devem procurar o médico. Feridas e úlceras podem ser uma DST, mas quando não cicatrizam, podem ser câncer".

"Esta não é uma doença com mortalidade rápida. O homem sofre muito e demoram para procurar ajuda por vergonha de mostrar o pênis, medo do diagnóstico, medo da consequência, agravando ainda mais o problema", destacou o médico do Hospital A.C. Camargo, especializado no tratamento de câncer.

Ação e reação
"A reação dos homens quando sabem que precisarão amputar o pênis é terrível! Este diagnóstico acaba sendo mais forte para eles do que o do câncer ou da possibilidade de morrer. Eles encaram como a morte de sua sexualidade e de sua função como homem. Muitos escondem de toda a família, dividindo a amputação apenas com a esposa", lembrou Ana Teresa, destacando que não é possível colocar implantes, levando muitos pacientes a quadros ainda mais depressivos.

A psicóloga destacou que a notícia do câncer atinge não só o homem, como toda a sua família e muitas mulheres também se angustiam com o drama do marido que, muitas vezes, além da amputação do órgão sexual precisa passar por outras cirurgias. "Toda doença afeta o aspecto emocional, que pode acelerar consideravelmente a cura ou a piora. Por isso o papel do psicólogo é tão importante para que o paciente aceite a doença e saiba lidar com ela da melhor maneira possível. Toda moléstia requer tratamento e acompanhamento. Alguém com diabetes, por exemplo, vai precisar aceitar a doença para tratá-la e conviver com ela. O mesmo acontece com o homem que teve seu pênis amputado por causa de um câncer."

Solução do problema
A circuncisão para remoção do prepúcio é uma das formas de prevenir o câncer peniano e, consequentemente, a possível amputação. Apesar de a glande ficar exposta, a circuncisão acaba protegendo a saúde masculina: "há estudos que mostram que diminui o risco de contrair DSTs e até o HIV, mas, logicamente a proteção não é 100%. A camisinha ainda é mais eficaz", disse Guimarães.

Não há idade para a realização da cirurgia de fimose, portanto, mesmo homens adultos podem procurar o médico para a realização do procedimento."Não sei porque não é feita em todos os homens", desabafou Ana Teresa.

A limpeza correta durante o banho, após relações sexuais e a masturbação é essencial para prevenir este mal e manter a saúde sexual em ordem.

Outra forma de prevenir o câncer de pênis é por meio da conscientização não só dos homens, mas também das mulheres. "As mães, em especial, são o agente multiplicador. Elas que vão ensinar seus filhos a como higienizar corretamente as partes íntimas, prevenindo lesões que podem avançar para o câncer, além de ensinar a procurar o médico, sem pudores", sugeriu Ana Teresa.
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