A comunidade científica mundial recebeu na última semana de março uma boa notícia. Cientistas de oito centros de pesquisa dos Estados Unidos anunciaram o encontro de uma pílula bastante eficaz para prevenir o desenvolvimento da diabetes tipo 2, considerada atualmente uma das maiores ameaças à saúde. Associada à obesidade, a doença eleva os riscos de infarto e pode provocar cegueira, entre outras graves enfermidades. Ao todo, estima-se que ela atinja cerca de 256 milhões de pessoas no mundo.
O remédio que encheu de esperanças médicos do mundo afora chama-se pioglitazona (nome do princípio ativo). Hoje, ele já é utilizado no tratamento da enfermidade, mas o que os pesquisadores verificaram foi sua eficiência para impedir que aquelas pessoas que estão em risco de desenvolver a doença de fato fiquem diabéticas. Esse grupo de indivíduos encontra-se em uma condição classificada como pré-diabetes. Os pré-diabéticos apresentam índice de glicose (açúcar) no sangue, em jejum, entre 100 mg/dL e 124,9 mg/dL Os diabéticos manifestam taxas iguais ou superiores a 125 mg/dL. Estima-se que 344 milhões de pessoas têm pré-diabetes.
Em um estudo feito com 602 pré-diabéticos, os cientistas verificaram que a pioglitazona reduziu em 72% o risco de que se tornassem diabéticos. "É um resultado fantástico", afirmou Ralph DeFronzo, um dos autores do trabalho, publicado no "New England Journal of Medicine", um dos mais prestigiados do mundo. "Este índice de sucesso na prevenção é o maior já verificado, superando o que pode ser obtido com as medidas preventivas tradicionais", completou.
Hoje, os recursos usados para tentar evitar que os pré-diabéticos cruzem a linha para a diabetes são os exercícios, dieta e outros medicamentos. Entre eles estão a metformina e drogas mais modernas. Em relação à metformina, os resultados em termos de prevenção não são tão expressivos quanto os alcançados pela pioglitazona. "Ela oferece proteção de 30%. Já mudanças importantes no estilo vida podem reduzir em 60% as chances de vir a ser diabético", disse à ISTOÉ Robert Henry, presidente da Associação Americana de Diabetes e coautor do novo estudo. Quanto aos remédios mais recentes, ainda não há trabalhos suficientes para atestar o potencial de seus efeitos preventivos, embora seja de se supor que também sejam altos.
Dessa maneira, o trabalho americano aponta a pioglitazona como o método mais eficiente disponível. "Os números mostrados na pesquisa foram de muito impacto", afirma o médico Antonio Chacra, chefe do Departamento de Endocrinologia da Universidade Federal de São Paulo. "Foi uma boa informação, já que indica mais um recurso para tratar os pré-diabéticos", concorda Saulo Cavalcante, presidente da Sociedade Brasileira de Diabetes.
O índice de prevenção foi obtido com a ingestão diária de um comprimido. Para se certificar da evolução da saúde dos participantes do estudo, os cientistas avaliaram alguns pacientes por mais de quatro anos, mas a média de acompanhamento foi de 2,4 anos.
O medicamento atua reduzindo a resistência do corpo ao funcionamento da insulina, o hormônio que possibilita a passagem da glicose do sangue para dentro das células, onde o açúcar é usado como uma espécie de combustível. Por mecanismos complexos, condições como a obesidade levam o organismo a apresentar resistência ao trabalho da insulina. O resultado é um excesso de glicose na corrente sanguínea - a característica da diabetes -, o que, com o passar do tempo, pode gerar complicações como o infarto.
Uma ressalva a ser feita, porém, é a de que a droga faz parte da mesma classe do medicamento rosiglitazona, o Avandia, retirado do mercado brasileiro por trazer risco cardíaco. "A pioglitazona possui efeitos colaterais como edema, aumento de peso e da fome", afirma a endocrinologista Maria Fernanda Barca, de São Paulo.
Outro avanço contra a doença foi anunciado na última semana. Médicos do Massachusetts General Hospital, nos EUA, criaram um teste capaz de prever se alguém tem risco de desenvolver a diabetes tipo 2 até uma década antes de isso acontecer. "Nesses casos, podem-se adotar medidas preventivas o mais cedo possível", disse o médico Thomas Wang, criador do exame. O teste mede a concentração de cinco aminoácidos. Se estiver alta, o indivíduo tem cinco vezes mais chance de desenvolver a enfermidade.
Fonte Abcfarma
Matéria realizada pela revista Isto É - jornalista Cilene Pereira
http://www.abcfarma.org.br/Noticias/Indexinterna.asp?Textos_ID=19067
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