quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Endometriose: uma doença da mulher moderna

A endometriose por ser uma patologia de difícil diagnóstico e tratamento geralmente complexo, deve ser tratada por um ginecologista com especialização em vídeocirurgia além de grande experiência no manejo deste tipo de paciente. A endometriose se caracteriza pela presença de células endometriais fora da cavidade uterina.

Estas células fazem parte do endométrio, que é uma camada que se encontra no interior da cavidade uterina forrando-a inteiramente.

O endométrio modifica-se sob ação hormonal, respondendo à presença dos hormônios estrogênio e progesterona que são produzidos pelos ovários. Esta camada tem como responsabilidade primordial oferecer as condições necessárias para a implantação e nutrição do óvulo fecundado, o ovo, até a formação da placenta para permitir as trocas materno-fetais. Ao longo do mês, este tecido endometrial altera-se em relação à sua espessura, vascularização e secreção, se descamando na ausência de uma gravidez, se regenerando e voltando a se refazer num novo ciclo o que possibilitará uma gestação futura.

Ao término da menstruação as camadas mais externas do endométrio saem junto com o sangue menstrual, ficando a porção mais profunda. A partir deste período os ovários iniciam a liberação do estrogênio, que atua no endométrio provocando um crescimento progressivo das suas camadas, estimulando o aparecimento de glândulas e vasos, até que haja a ovulação e consequentemente a produção de progesterona. Com o início da produção da progesterona, o endométrio modifica-se tornando-se mais frondoso e secretor, característica importante para o processo de nidação do ovo (fixação do ovo na parede do útero). Esta ação se prolonga quando acontece a gravidez, devido à permanência no ovário de um cisto luteínico - corpo lúteo - que mantém a produção de progesterona, garantindo a continuidade da gravidez.

Na ausência de gravidez a produção de progesterona cessa, levando a uma parada do estímulo hormonal sobre o endométrio, que se apresentando elevado e amadurecido para receber um futuro bebê, começa a ter alterações na vascularização e nutrição das camadas mais superficiais, levando a uma isquemia e desvitalização deste tecido, culminando com a sua descamação junto com o sangramento menstrual. Este ciclo se faz mensalmente, variando de 25 a 35 dias o período de intervalo entre as menstruações.

A endometriose é a presença deste tecido endometrial fora da cavidade uterina, isto é, nas tubas (trompas de Falópio), nos ovários e no peritônio, podendo também acometer outros órgãos como intestinos, rins, pulmões ou septo retovaginal. O tecido endometrial localizado nestes órgãos apresenta respostas aos hormônios ovarianos semelhantes às do endométrio no interior do útero, crescendo, modificando-se, descamando e sangrando. Este ciclo provoca importante processo inflamatório nos órgãos afetados, geralmente com forte sensação dolorosa e aderências entre as estruturas próximas, o que pode comprometer a estática dos órgãos pélvicos levando a infertilidade e dor pélvica crônica.

Então temos como definição que, endometriose é a presença de tecido endometrial fora da cavidade uterina, podendo levar a um quadro de dor, aparecimento de tumor na pelve e infertilidade.

Origens

Existem várias teorias para explicar o aparecimento de endometriose. Estas seriam desde o acesso por via sangüínea das células endometriais até os locais de implantação, até outras que colocam a possibilidade de transporte destas células por via linfática.

A primeira teoria que tentou explicar sua origem foi do Dr. J. Sampson em 1921 e teve por base o refluxo menstrual pelas tubas como causa da endometriose pélvica.

Existe também a hipótese de metaplasia das células peritoniais, que representa a capacidade de algumas células diante de determinando estímulos poderem se transformar em outro tipo de célula, exercendo as funções desta nova célula. Por esta teoria, as células peritoniais, do septo retovaginal e da superfície do ovário poderiam se transformar em células endometriais. Nestas condições responderiam da mesma forma aos estímulos dos hormônios ovarianos.

Mais recentemente existem hipóteses de que o fator imunológico da paciente seria também determinante para o aparecimento de endometriose e isto explicaria o aparecimento ou não da doença, na presença de refluxo menstrual pelas tubas.

Quadro clínico

A endometriose pode ser assintomática, sendo encontrada em 5 a 10% das laparoscopias realizadas sem queixa de dor.

As queixas mais freqüentes das pacientes com endometriose são a dor pélvica, geralmente cíclica, piorando no período da menstruação, do tipo cólica, que vem aumentando de intensidade com o tempo, havendo necessidade de aumento da dose de analgésicos ou mudança para via venosa.

A dificuldade em engravidar, infertilidade, também pode estar relacionada com a endometriose pélvica. As aderências causadas pelo processo inflamatório crônico fazem com que estruturas se liguem umas às outras através de pontes de tecido fibroso, levando a firmes aderências que poderão obstruir as tubas de Falópio ou mesmo envolver os ovários com este tecido, impossibilitando a apreensão do óvulo pelas tubas.

Existe também a possibilidade da endometriose pélvica alterar fatores imunológicos e com isso dificultar a fecundação do óvulo. (fecundação é o processo no qual um espermatozóide se liga ao óvulo, transformando-o em ovo, que seriam as primeiras células do bebê).

As presenças de determinados cistos de ovário e tumores pélvicos podem representar sinais de endometriose. Estes seriam os endometriomas de ovário, endometriomas de bexiga, reto ou mesmo as aderências por endometriose pélvica.

O endometrioma também pode ser de parede abdominal e tem como queixas dor no local onde ele se encontra, associada a um tumor que pode aumentar de tamanho e sintomatologia no período pré e intramenstrual. Este quadro está geralmente associado a uma historia de cirurgias obstétricas ou ginecológicas prévias.

Já o endometrioma do septo retovaginal (área muscular entre o reto, vagina e útero) tem como queixa principal a dor na relação sexual. Por vezes se encontra uma nodulação na parte posterior da vagina no momento do toque digital vaginal ou retal.

Quando a endometriose acomete o intestino, é mais freqüente no intestino grosso, reto e sigmóide e o quadro é de dor abdominal. Dores à evacuação, constipação intestinal e distensão abdominal, podem ser os sinais da doença. Nos casos mais severos a dor passa a ser permanente e de grande intensidade, com distensão do abdômen, sub-oclusão ou oclusão intestinal, e enterorragia (sangramento no momento da evacuação). Este é um quadro grave de endometriose intestinal que requer um tratamento cirúrgico por uma equipe multi-profissional, que deverá retirar a porção do intestino envolvida no processo de endometriose.

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