segunda-feira, 14 de abril de 2008

Câncer de Boca sob análise


Câncer de Boca sob análise

5º tipo de câncer com maior incidência no Brasil tem sua ocorrência relacionada à ausência de genes responsáveis pela síntese de proteínas que inativam os agentes causadores da doença

Com o objetivo de traçar o perfil genético de pessoas suscetíveis ao desenvolvimento do Carcinoma de Células escamosas de Boca (câncer de boca) o projeto “Relação entre o polimorfismo dos genes CYP2E1, GSTM1, GSTT1 e ALDH2 e Carcinoma de Células Escamosas da Boca”, coordenado pelo professor e diretor da Faculdade de Odontologia da UFMG, Ricardo Santiago Gomez, fez estudo com 180 pessoas fumantes, sendo metade portadores da doença e a outra metade saudáveis. A ocorrência da doença está relacionada principalmente ao consumo de tabaco e álcool, e a pesquisa buscou identificar o que faz com que algumas pessoas fumantes a desenvolvam e outras não.

O projeto teve início com o estudo de outros tipos de câncer com etiologia semelhante, como o Câncer de Pulmão e de esôfago, onde algumas enzimas estavam sendo estudadas por outros autores. O coordenador explica que na estrutura genética de um indivíduo, há genes que codificam enzimas com diversas funções. Entre essas funções está a neutralização dos carcinógenos (substâncias que induzem o câncer). Por outro lado, há genes que codificam proteínas que vão metabolizar os carcinógenos, ativando-os. Essas enzimas aumentam o poder de carcinogenecidade das substâncias do tabaco.
O estudo procurou estudar os genes que codificam as enzimas que metabolizam substâncias presentes no tabaco e relacioná-las à ocorrência do câncer de boca. As enzimas mais importantes encontradas foram a família de enzimas Glutationas. Outras enzimas foram estudadas, como membros das famílias do citocromo P450 e das aldeído desidrogenadas.

O estudo comprovou a relação entre a família de enzimas Glutationas e o desenvolvimento da doença. Essa família de enzimas atua inativando os compostos carcinogênicos do tabaco e, por isso, as pessoas que apresentam o gene responsável por sintetizar essas enzimas não desenvolveram a doença. Entre os portadores de câncer de boca, foi detectada a ausência de membros da família das Glutationas, e por isso os carcinógenos não eram eliminados e permaneciam em contato com os tecidos.

O trabalho realizou a coleta de tecidos, através da raspagem da mucosa bucal dos 90 portadores da doença e das 90 pessoas do grupo de controle dos fumantes sem carcinoma. Foi realizada uma extração de DNA de todas as amostras e essas foram submetidas ao método PCR (reação em cadeia da polimerase), para identificação dos genes de interesse. O PCR é um método em que a região de interesse do DNA é ampliada e copiada várias vezes para facilitar o estudo. Através desse processo é possível detectar a presença ou ausência dos genes no indivíduo.

O projeto quer, também, avaliar a relação dos polimorfismos, ou variações genéticas entre as pessoas, com a sobrevida do paciente, que em geral é de 40% a 50% em cinco anos. O trabalho é importante para identificação de populações suscetíveis à doença, onde podem ser enfocadas campanhas de prevenção e diagnóstico precoce. Além disso, os resultados do projeto podem contribuir no desenvolvimento de métodos alternativos de tratamento de lesões pré-malignas de boca, as leocoplasias, que se caracterizam como manchas brancas que aparecem na mucosa bucal e tem grande risco de se tornarem no carcinoma de células escamosas de boca.

Hoje, o tratamento do câncer de boca é baseado em cirurgia e radioterapia. Quanto mais precoce a detecção da doença, mais eficazes as medidas terapêuticas. O tamanho da lesão também é importante na eficácia do tratamento. A identificação de leocoplasias é fundamental para evitar que as lesões evoluam para um câncer. A Faculdade de Odontologia realiza um trabalho de diagnóstico precoce e prevenção. Os alunos são treinados para a identificação de lesões malignas e pré-malignas. Quando estas são identificadas os pacientes são encaminhados para o Hospital Mário Pena.

O projeto pretende continuar com o estudo de novos genes relacionados a enzimas que inativam carcinôgenos e pretende, ainda, partir para o estudo sobre os genes relacionados a enzimas que ativam carcinógenos, podendo, assim, realizar um trabalho para silenciar essas enzimas.

Nenhum estudo desta natureza fora realizado, antes, no Brasil. Além disso, os trabalhos publicados até agora não realizaram a análise conjunta destas variações genéticas entre pessoas, tendo sido avaliados apenas isoladamente.

Mais informações:

Dr. Ricardo Santiago Gomez: (31) 3499-2477
E-mail: rsgomez@ufmg.br

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