Mesmo aqueles que obtiveram bons resultados com células adultas não dispensam as pesquisas com embriões
Algumas pesquisas clínicas com células-tronco adultas no Brasil já produziram resultados positivos. Mas, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) prepara-se para retomar o julgamento da ação que pede o fim das pesquisas com células embrionárias, os próprios cientistas que lideram esses estudos avisam: uma coisa não substitui a outra.
Vários coordenadores dos principais projetos terapêuticos com células-tronco adultas ouvidos pelo Estado defenderam as pesquisas com células embrionárias, apesar dos resultados positivos (ou não) de suas pesquisas. “Não curamos ninguém”, ressalta o médico Júlio Cesar Voltarelli, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP). “Dizer que as células-tronco adultas resolveram o problema é uma falácia. Temos de testar todas as alternativas, não podemos fechar a porta para nada”.
Voltarelli coordena um projeto com 18 portadores de diabete tipo 1, na qual o sistema imunológico se volta contra as células produtoras de insulina do pâncreas. A idéia é usar as células-tronco para reconstituir as células destruídas.
Todos receberam transplantes de células-tronco adultas da própria medula óssea (autólogas). Quatorze recuperaram a capacidade de produzir insulina, por meses ou até anos. Mas os efeitos parecem ser passageiros: seis já voltaram a usar injeções de insulina, ainda que em doses menores.
A terapia é equivalente a um autotransplante de medula óssea, com o intuito de “reprogramar” o sistema imunológico dos pacientes. Todos tinham diabete precoce, diagnosticada com menos de seis semanas. Segundo Voltarelli, a técnica não funcionaria em outras condições.
“Recuso 99% dos pacientes porque sei que não vai funcionar”, diz. “Para isso, eu precisaria de células capazes de regenerar o pâncreas”.E isso, completa Voltarelli, só as embrionárias têm o potencial de fazer.
CORAÇÃO
O Ministério da Saúde financia um dos maiores estudos clínicos com células-tronco adultas no mundo, chamado Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias. O projeto trabalha com cerca de 300 pacientes e quer chegar a 800. Médicos e cientistas de várias instituições estão testando o uso de células-tronco da medula óssea em quatro situações: cardiomiopatia dilatada, doença de Chagas, enfarte agudo e isquemia crônica do coração.
Os resultados obtidos variam segundo a doença - e segundo a avaliação de cada pesquisador. “Temos dados que nos deixam muito otimistas nos casos de enfarte e isquemia crônica”, diz Hans Dohmann, diretor do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL), no Rio, e coordenador do grupo de enfarte no estudo. “Não estou tão otimista com relação a Chagas e cardiomiopatia dilatada”.
Já o médico Ricardo Ribeiro dos Santos está. Ele coordena o estudo de chagásicos na Fiocruz da Bahia, em Salvador. Segundo ele, 160 pacientes já passaram pelo transplante celular - metade com células-tronco, metade com um placebo (o chamado grupo-controle). Como os grupos são mantidos em segredo, os próprios médicos não têm ainda como avaliar os efeitos da terapia. “Só sei que não houve piora com o tratamento”, diz Santos.
Seu otimismo é baseado em um estudo-piloto anterior com 60 chagásicos em fase terminal. O estudo foi feito sem um grupo-controle, o que compromete a interpretação dos resultados. Mas, segundo Santos, a sobrevida dos pacientes está acima do esperado. “E a maioria tem uma qualidade de vida muito boa”.
A expectativa é que as células-tronco ajudem na recuperação do tecido cardíaco danificado pelas doenças. Inicialmente, imaginava-se que, ao chegar ao coração, as células-tronco se transformariam em células musculares ou vasculares, substituindo as que foram perdidas. A hipótese mais aceita agora é que as células-tronco adultas funcionam como minúsculas “enfermeiras”, secretando moléculas que auxiliam na regeneração dos tecidos.
No caso das embrionárias, haveria a expectativa de produzir tecido cardíaco de fato. “O que não faz sentido, num Estado laico, é restringir a busca de soluções”, afirma Dohmann. Nisso, Santos concorda: “O uso das células-tronco adultas tem um horizonte positivo, mas está longe de ser uma terapia estabelecida ou uma solução ideal. Todas as opções devem ser pesquisadas”.
MEDULA ESPINHAL
Na Faculdade de Medicina da USP, o médico Tarcísio de Barros Filho concluiu um estudo com 30 vítimas de acidentes medulares - paraplégicos ou tetraplégicos. Todos receberam injeções de células-tronco autólogas da medula óssea. Em 60% dos casos, houve leve melhora num exame que mede a capacidade de um impulso elétrico aplicado na perna chegar até o cérebro. Não houve, porém, nenhum ganho de capacidade motora. “Ninguém voltou a andar”, diz Barros.
A melhoria no teste pode ser em razão de neurotransmissores secretados pelas células-tronco sobre a lesão. “Do ponto de vista científico, é um resultado importante. Do ponto de vista prático, não”, diz Barros. “É mais uma razão para estudarmos as células embrionárias”.
FONTE: UOL
Algumas pesquisas clínicas com células-tronco adultas no Brasil já produziram resultados positivos. Mas, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) prepara-se para retomar o julgamento da ação que pede o fim das pesquisas com células embrionárias, os próprios cientistas que lideram esses estudos avisam: uma coisa não substitui a outra.
Vários coordenadores dos principais projetos terapêuticos com células-tronco adultas ouvidos pelo Estado defenderam as pesquisas com células embrionárias, apesar dos resultados positivos (ou não) de suas pesquisas. “Não curamos ninguém”, ressalta o médico Júlio Cesar Voltarelli, da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo (USP). “Dizer que as células-tronco adultas resolveram o problema é uma falácia. Temos de testar todas as alternativas, não podemos fechar a porta para nada”.
Voltarelli coordena um projeto com 18 portadores de diabete tipo 1, na qual o sistema imunológico se volta contra as células produtoras de insulina do pâncreas. A idéia é usar as células-tronco para reconstituir as células destruídas.
Todos receberam transplantes de células-tronco adultas da própria medula óssea (autólogas). Quatorze recuperaram a capacidade de produzir insulina, por meses ou até anos. Mas os efeitos parecem ser passageiros: seis já voltaram a usar injeções de insulina, ainda que em doses menores.
A terapia é equivalente a um autotransplante de medula óssea, com o intuito de “reprogramar” o sistema imunológico dos pacientes. Todos tinham diabete precoce, diagnosticada com menos de seis semanas. Segundo Voltarelli, a técnica não funcionaria em outras condições.
“Recuso 99% dos pacientes porque sei que não vai funcionar”, diz. “Para isso, eu precisaria de células capazes de regenerar o pâncreas”.E isso, completa Voltarelli, só as embrionárias têm o potencial de fazer.
CORAÇÃO
O Ministério da Saúde financia um dos maiores estudos clínicos com células-tronco adultas no mundo, chamado Estudo Multicêntrico Randomizado de Terapia Celular em Cardiopatias. O projeto trabalha com cerca de 300 pacientes e quer chegar a 800. Médicos e cientistas de várias instituições estão testando o uso de células-tronco da medula óssea em quatro situações: cardiomiopatia dilatada, doença de Chagas, enfarte agudo e isquemia crônica do coração.
Os resultados obtidos variam segundo a doença - e segundo a avaliação de cada pesquisador. “Temos dados que nos deixam muito otimistas nos casos de enfarte e isquemia crônica”, diz Hans Dohmann, diretor do Instituto Nacional de Cardiologia Laranjeiras (INCL), no Rio, e coordenador do grupo de enfarte no estudo. “Não estou tão otimista com relação a Chagas e cardiomiopatia dilatada”.
Já o médico Ricardo Ribeiro dos Santos está. Ele coordena o estudo de chagásicos na Fiocruz da Bahia, em Salvador. Segundo ele, 160 pacientes já passaram pelo transplante celular - metade com células-tronco, metade com um placebo (o chamado grupo-controle). Como os grupos são mantidos em segredo, os próprios médicos não têm ainda como avaliar os efeitos da terapia. “Só sei que não houve piora com o tratamento”, diz Santos.
Seu otimismo é baseado em um estudo-piloto anterior com 60 chagásicos em fase terminal. O estudo foi feito sem um grupo-controle, o que compromete a interpretação dos resultados. Mas, segundo Santos, a sobrevida dos pacientes está acima do esperado. “E a maioria tem uma qualidade de vida muito boa”.
A expectativa é que as células-tronco ajudem na recuperação do tecido cardíaco danificado pelas doenças. Inicialmente, imaginava-se que, ao chegar ao coração, as células-tronco se transformariam em células musculares ou vasculares, substituindo as que foram perdidas. A hipótese mais aceita agora é que as células-tronco adultas funcionam como minúsculas “enfermeiras”, secretando moléculas que auxiliam na regeneração dos tecidos.
No caso das embrionárias, haveria a expectativa de produzir tecido cardíaco de fato. “O que não faz sentido, num Estado laico, é restringir a busca de soluções”, afirma Dohmann. Nisso, Santos concorda: “O uso das células-tronco adultas tem um horizonte positivo, mas está longe de ser uma terapia estabelecida ou uma solução ideal. Todas as opções devem ser pesquisadas”.
MEDULA ESPINHAL
Na Faculdade de Medicina da USP, o médico Tarcísio de Barros Filho concluiu um estudo com 30 vítimas de acidentes medulares - paraplégicos ou tetraplégicos. Todos receberam injeções de células-tronco autólogas da medula óssea. Em 60% dos casos, houve leve melhora num exame que mede a capacidade de um impulso elétrico aplicado na perna chegar até o cérebro. Não houve, porém, nenhum ganho de capacidade motora. “Ninguém voltou a andar”, diz Barros.
A melhoria no teste pode ser em razão de neurotransmissores secretados pelas células-tronco sobre a lesão. “Do ponto de vista científico, é um resultado importante. Do ponto de vista prático, não”, diz Barros. “É mais uma razão para estudarmos as células embrionárias”.
FONTE: UOL
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