A CIRURGIA
Numerosas opções de tratamento estão hoje disponíveis, mas do ponto de vista urológico o tratamento de escolha para a doença que se encontra unicamente dentro da próstata, ou seja, não houve disseminação para outros órgãos, é a chamada prostatectomia radical. Consiste na retirada completa da glândula e outras estruturas acessórias (vesículas seminais). Embora se tenha aprimorado as técnicas cirúrgicas, resultando em menos de 10% de incontinência urinária (escape de urina), ainda os urologistas constatam que a maioria de seus pacientes fica impotente. Disfunção erétil após a prostatectomia radical, realizadas por cirurgião experiente e em centros de excelência, gira em torno de 50% a 100%. Apesar do refinamento da técnica cirúrgica, desenvolvida pelo urologista americano Patrick Walsh há mais de 20 anos, com a possibilidade de preservação dos nervos responsáveis pela ereção do pênis (nervos cavernosos), o tempo tem mostrado que esta abordagem cirúrgica não dá garantia absoluta que função erétil será preservada.
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Da mesma forma que não há maneira confiável de se verificar se estão íntegros durante a cirurgia, pois são estruturas muito delicadas, em forma passam bem juntos a próstata. Invariavelmente após a cirurgia o homem passa a sentir os reflexos da perda da potência sexual, observando que seu pênis não responde mais a estímulos. Isto ocorre porque a conexão com o pênis foi lesada, ou seja, o fio condutor de estímulos (no caso os nervos) ficou interrompido e mesmo com desejo sexual o órgão não reage, como uma TV que não liga porque o fio foi cortado ou está descascado. O tecido peniano sem estímulo nervoso não recebe o volume de sangue necessário e suas células ficam privadas de oxigênio, seu principal nutriente.
OS PRIMEIROS SINAIS
Quando se nota a ausência das ereções que surgem normalmente durante a noite e pela manhã ao acordar antes de urinar é um sinal de que o sangue não está circulando normalmente. O resultado
imediato deste ciclo é a progressão para a atrofia do tecido que se torna menos elástico com a morte programada de suas células.
A conseqüência notada pelo paciente é a diminuição em até 10% no tamanho do pênis e em 7% na sua espessura (circunferência) com uma perda total de volume de até 27%. Outras transformações que podem surgir é o aparecimento de áreas endurecidas no pênis como nódulos ou caroços que são resultantes de fibrose do tecido (áreas mortas ou cicatriciais) que levam ao encurvamento do órgão (conhecido como Doença de Peyronie). Mas a mensagem principal é que esta situação pode ser evitada caso uma reabilitação peniana seja feita o mais breve possível.
A REABILITAÇÃO PENIANA
A reabilitação consiste em estímulos precoces (logo após a retirada da sonda) ao tecido peniano através de medicamentos injetáveis intra-cavernosos e/ou orais programados que vão permitir que suas células permaneçam com fluxo de sangue, e portanto, com níveis elevados de oxigenação, irrigando o pênis como uma planta murcha que precisa de água. Esta atitude impede as conseqüências negativas da falta do estímulo nervoso, preservando o tecido peniano contra a falta de oxigenação e evitando desta forma a atrofia e formação de fibrose até o retorno das ereções naturais.
A reabilitação peniana funcionaria como uma “fisioterapia” ou uma “musculação” do pênis que pode ser comparada a uma recuperação de um braço ou uma perna após uma fratura e que houve necessidade de imobilização por gesso por um período de tempo, como exemplo. O objetivo é oxigenar o tecido, promover o crescimento de novos vasos sanguíneos (vasculogênese) e efetuar uma dilatação forçada da musculatura peniana (hipertrofia). Alem disso o paciente passa já no início do tratamento a ter relações sexuais com a parceira, o que resulta em ganho de auto-estima, autoconfiança e melhorando o relacionamento do casal.
O principio básico da reabilitaçãopeniana é fazer com que o paciente consiga ter relações sexuais com ereções naturais que vão surgindo com o tempo, na dependência da gravidade e extensão do seu câncer e principalmente do tempo em que se iniciou este tratamento. Podemos dizer que neste caso o tempo é o principal inimigo do pênis, pois quando mais tempo levar para se iniciar a reabilitação maior serão os efeitos negativos no tecido peniano, tornando a recuperação muito mais demorada e com risco de não ser possível mais obter ereções naturais, ficando na dependência de medicamentos, ou seja, sempre apoiados por uma “muleta”.
O MOMENTO PARA A PRÓTESE PENIANA
Quando observamos que a chance de recuperação é muito difícil pela pouca resposta ao estímulo da reabilitação ou o paciente não consegue se adaptar ao tratamento, a próxima alternativa válida seria a implantação de uma prótese peniana. A reabilitação peniana deve ser sempre a opção inicial tratamento reservando a cirurgia de prótese para os casos falhos ou de falta de adaptação.
Após o sofrimento da descoberta de um câncer e o conhecimento que terá de encarar uma cirurgia, muitos valores mudam na vida destas pessoas, abrangendo todos os familiares. Quando se passa por toda esta turbulência, e ainda após a cirurgia se sente que é incapaz de ter vida sexual, faz gerar nestes homens um sentimento de frustração e desânimo com a perda de momentos de satisfação e prazer que compartilhava com a sua parceira antes de tudo ocorrer. Pesquisas comprovam que pessoas sexualmente ativas são mais positivas, confiantes, pacíficas e menos ansiosas.
Não se esquecendo que exercer plenamente a sexualidade é um dos principais fatores que compõem as medidas de qualidade de vida.
Dr. Márcio de Carvalho
Urologista
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