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Fernanda Aranda, de Salvador | 01/07/2010 11:20
Nos anos 80, a explosão do vírus HIV fez crescer também os casos de tuberculose. Na época, os especialistas atestaram que a aids facilitava o aparecimento do grave problema pulmonar.
As autoridades de saúde agora estão em alerta máximo porque descobriram que a bactéria que adoece os pulmões também caminha de mãos dadas com uma outra doença ainda mais epidêmica: o diabetes, presente em 15% da população brasileira.
A associação entre as duas doenças, uma transmissível e a outra crônica, começou a ser pesquisada na China e na Índia, dois países que simultaneamente assistiram o crescimento expressivo de portadores de diabetes e tuberculosos. O diretor da Fundação Internacional do Diabetes, Anil Kapur, afirmou que a dupla diabetes/tuberculose foi confirmada em quase todos os países América Latina e em nações em desenvolvimento, justamente os campeões de crescimento da doença metabólica, como mostrou o último Atlas mundial.
Por conta disso, acredita Kapur, a associação das duas doenças deve ser um dos principais temas de debates na Conferência Latino Amarecina do Diabetes, que começou nesta quarta-feira (30) em Salvador, na Bahia, e vai até o próximo domingo (4).
“Fizemos um trabalho de pesquisa, publicado no final do ano passado (a Public Libery of Science foi apenas um dos veículos) que confirmou a presença do diabetes como fator que aumenta em três vezes o risco de desenvolver tuberculose”, afirmou Anil Kapur. “Os especialistas em saúde precisam encontrar estratégias eficazes de prevenir e tratar as duas doenças em parceria, porque sabemos que a tuberculose dificulta o controle dos índices glicêmicos. E os índices glicêmicos descontrolados atrapalham o tratamento da tuberculose. É um ciclo sem fim.”
Novo cenário
Os grandes nomes da saúde pública alertaram que a parceria entre doenças crônicas e doenças infecciosas é o grande desafio atual. Roger Glass, diretor do Instituto Nacional de Saúde (NIH) afirmou que há uma associação entre diabetes e vários outros problemas, que vão desde o câncer até infecções mais simples. “A minha geração de médicos precisou trocar o foco de atenção. Primeiro começamos uma batalha muito forte para combater a desnutrição. Agora precisamos atuar com a obesidade, fator que está por trás do crescimento expressivo de problemas crônicos como o diabetes tipo 2.”
O novo estilo de vida, que mistura mais sedentarismo, má alimentação, alcoolismo e tabagismo, é o que justifica a necessidade imediata de transformar as doenças crônicas em prioridade máxima, diz Alan Alwa, vice-diretor da Organização Mundial de Saúde na área de doenças não transmissíveis. “Só hoje, com o diabetes, temos 8 milhões de mortes antes do doente completar 60 anos. Se nada for feito, teremos um aumento de 16% até 2015 destes óbitos precoces. Prevenir doenças crônicas, é também atuar na prevenção de doenças infecciosas, prevenção da pobreza e da diminuição da expectativa de vida.”
*A repórter viajou a convite da Fundação Mundial do Diabetes
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